Título: Brasil entra para o clube de credores do FMI
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 10/04/2009, Economia, p. 19

País pode emprestar, caso seja necessário, US$4,5 bi ao Fundo, além dos US$10 bi em estudo desde a reunião do G-20

BRASÍLIA. O Brasil aceitou o convite para integrar um grupo de 47 países-sócios que se dispõem a emprestar ao Fundo Monetário Internacional (FMI) o valor de suas cotas na instituição, se assim forem solicitados, informou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Isso significa que o governo brasileiro poderá, se for necessário, pôr à disposição do Fundo até US$4,5 bilhões - sua cota no FMI. Fazem parte desse grupo de credores potenciais EUA e China.

O Brasil negocia ainda um crédito emergencial ao Fundo, acertado na reunião do G-20 (grupo de países ricos e principais emergentes), realizada em Londres na semana passada. Conforme O GLOBO antecipou, inicialmente o governo pretende usar 5% de suas reservas internacionais, ou cerca de US$10 bilhões, nessa operação. Ao fim da reunião do G-20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apontou, bem-humorado, a mudança de posição do Brasil:

- Você não acha muito chique o Brasil emprestar dinheiro para o FMI? E eu, que passei parte da minha juventude carregando faixa em São Paulo: "Fora FMI".

Segundo Mantega, o FMI convidou o Brasil para o grupo de seus credores potenciais porque confia em sua economia:

- O convite demonstra a solidez das contas externas.

Os países que financiam os empréstimos do FMI fazem parte do chamado Plano de Transações Financeiras (PTF). O mecanismo básico é que essas economias se dispõem a prover, em caso de necessidade, moeda de livre utilização internacional (dólares, euros, libras ou ienes) até o limite de sua cota no Fundo.

- O FMI está convidando o Brasil para fazer parte dos países que são credores. Eu aceitei hoje (ontem) esse convite - disse Mantega.

Aporte não afetará as reservas internacionais

O ministro explicou que esses recursos não estão relacionados ao aporte adicional que o governo brasileiro se dispôs a fazer ao FMI durante a reunião do G-20. No encontro, o governo brasileiro mostrou interesse em comprar um novo título que será lançado pelo FMI para obter recursos e conceder empréstimos a países prejudicados pela crise internacional. Segundo Mantega, o novo título será lançado em até três semanas.

A possível ajuda do Brasil ao FMI sairia das reservas internacionais, mas não teria impacto nas contas do país. Segundo os técnicos, as reservas são compostas por dólares, títulos do Tesouro americano e também por Direitos Especiais de Saque (DES, moeda usada no FMI que representa a participação dos países no Fundo). Um dólar equivale a 0,666621 em DES.

O Brasil, por exemplo, poderá fazer uma troca de dólares por DES ou pelo novo título com o FMI. Com isso, haveria apenas uma mudança na composição das reservas brasileiras, dando maior liquidez ao Fundo. O ministro também negou que o Brasil esteja se dispondo a dar dinheiro para financiar países ricos que foram responsáveis pela atual crise financeira mundial:

- Os países que estão solicitando recursos do FMI são os emergentes, os mais pobres. As nações avançadas não vão pedir ajuda.

Mantega disse que a economia brasileira se beneficiará:

- Isso vai viabilizar o crédito para os países emergentes que estão com problemas. Portanto, ajuda a ativar a economia mundial. Isso ajudará o Brasil também, pois esses países vão ter mais recursos para importar mercadorias e fazer investimentos.