Título: Delúbio articula apoio para disputar eleição pelo PT
Autor: Souza, Isonilda
Fonte: O Globo, 11/04/2009, O País, p. 5

Ex-tesoureiro envolvido no escândalo do mensalão dá como certa sua volta ao partido e quer ser deputado federal.

GOIÂNIA. Expulso do PT depois do escândalo do mensalão, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares já dá como certa sua volta à legenda e articula apoios em Goiás para sua campanha eleitoral em 2010.

Há duas semanas, ele jantou com um grupo de vereadores, em Goiânia, e disse que seu assento no partido está garantido.

Afirmou que disputará o mandato de deputado federal e até declarou apoio ao prefeito Iris Rezende (PMDB) para o governo. Semana passada, Delúbio chegou a planejar um ato em Goiânia em defesa de sua anistia no PT, mas desistiu na última hora.

A desenvoltura e o otimismo do ex-petista são tão grandes que, recentemente, ele foi até paraninfo de uma turma de formandos em Itumbiara (GO).

Mesmo com capacidade de mobilizar a militância, como demonstrou ano passado na campanha municipal e em eventos recentes do partido em Goiás, ele também divide opiniões no PT goiano quando o assunto é sua anistia. O seu pedido de refiliação ao partido será analisado em maio pelo Diretório Nacional, com 84 integrantes.

Enquanto aguarda a decisão, Delúbio trabalha para amenizar resistências ao seu retorno.

Mesmo afirmando que a volta do ex-tesoureiro não provocará desgaste eleitoral na campanha presidencial, o deputado federal Rubens Otoni (PT-GO), líder do grupo majoritário do partido no diretório regional, diz que a discussão sobre a refiliação é inoportuna para a legenda: ¿ Não há inconveniência no retorno dele para o partido, mas esse não deve ser o nosso foco agora ¿ afirma Otoni.

A ex-deputada federal Neide Aparecida da Silva, amiga de Delúbio, aprova a anistia: ¿ Acho legítimo. Foi um momento (o mensalão) e não existe pena capital no país, muito menos no PT ¿ diz.

Neide Aparecida minimiza os eventuais reflexos da opinião do presidente Lula na decisão do Diretório Nacional. Lula já sinalizou ser contrário à concessão de perdão ao ex-tesoureiro antes do julgamento final do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal.

¿ Quem vota é o diretório ¿ diz Neide.

Confiante, Delúbio não dá entrevistas, mas se movimenta para convencer seus ex-colegas do diretório com o mesmo argumento que usou na carta enviada à Executiva Nacional do PT.

Afirma ter recebido uma punição elevada demais para o suposto erro que cometeu e reclama que cumpre ¿degredo doloroso há mais de três anos¿.

Na última semana, circulou na sede do PT de Goiânia um abaixo-assinado de militantes defendendo o retorno do ex-tesoureiro.

Embora Delúbio admita ter praticado caixa dois, o manifesto diz que as acusações contra ele são de caráter eminentemente político.

Delúbio foi expulso do PT em 2005, sob a acusação de ser um dos cabeças do mensalão.

Ele próprio admitiu responsabilidade direta no esquema que montou com o mineiro Marcos Valério para distribuir dinheiro ilegalmente para campanhas de políticos e partidos aliados ao governo Lula.