Título: Senado se divide entre ceticismo e expectativa de investigar denúncias
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 12/04/2009, O País, p. 4

FGV foi contratada por Sarney em 95 para arrumar a Casa por R$ 882 mil.

BRASÍLIA. A falta de uma reação contundente do Senado diante dos escândalos em série que atingem a instituição há dois meses aumenta, de um lado, a expectativa em relação à proposta de reforma administrativa encomendada pelo presidente da Casa, senador José Sarney (PMDB-AP), à Fundação Getulio Vargas (FGV), mas também gera desconfiança e ceticismo entre os próprios senadores.

Até porque a FGV foi contratada em 1995, na primeira gestão de Sarney, para fazer trabalho semelhante, por R$ 882 mil.

São muitos os que apontam que o maior desafio da FGV será enfrentar o poder político dos senadores, que mandam, nomeiam e gastam à vontade diante do descontrole da direção da Casa sobre o quadro administrativo e gastos com passagens, telefones e verba indenizatória.

O contrato apresentado esta semana pela FGV ao Senado estabelece custo inicial de R$ 250 mil para o estudo de reestruturação da instituição.

A falta de respostas rápidas tem obrigado grupos do Senado a fazer uma autocrítica.

¿ O que se espera da FGV é o diagnóstico preciso do quadro administrativo do Senado, com uma proposta de reformulação que reduza pela metade o número de servidores terceirizados e comissionados e garanta redução das despesas em 20% ¿ diz o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

¿ Necessitamos de uma mudança que possa ser vista e compreendida pela sociedade.

Cultura de pouca transparência

O líder tucano e o líder do DEM, José Agripino Maia (RN), foram procurados semana passada por Sarney, que já não esconde a preocupação com a repercussão negativa e o clima de guerra que se mantêm na Casa desde que assumiu o cargo.

Uma das conclusões é a necessidade de regras mais claras para o uso das passagens, telefones e verba indenizatória.

¿ Ou o Senado regulamenta o que é direito do senador ou ficaremos todos expostos. Não dá para ficar neste marasmo administrativo ¿ afirma o senador Renato Casagrande (PSB-ES).

O problema é que, nas poucas vezes em que se reuniu este ano, a Mesa Diretora mostrou pouca disposição de intervir na crise ética que atinge a instituição. A única providência ¿ após a Câmara ter tomado a iniciativa ¿ foi autorizar a publicação das notas fiscais apresentadas pelos senadores para justificar gastos com verba indenizatória.

Desde que anunciou a contratação da FGV para promover a reestruturação administrativa do Senado, Sarney tem se recusado a comentar qualquer nova denúncia de irregularidade, jogando essa responsabilidade para o 1osecretário, senador Heráclito Fortes (DEM-PI). Este, por sua vez, tem patinado diante da resistência da burocracia da Casa em lhe fornecer dados sobre gastos, contratos e quadro funcional da instituição.

O corporativismo dos servidores, numa cultura de pouca transparência e fiscalização mantida com o aval dos senadores, por omissão ou conivência, é apontado com um dos maiores desafios para a FGV garantir mudanças na instituição. Pedro Simon (PMDB-RS) é um dos que fazem ¿mea-culpa¿: ¿ A omissão é o maior problema hoje no Senado. Não quero atirar pedra, porque me considero culpado também. Deveríamos ter mensalmente reunião ordinária com os 81 senadores para discutir assuntos administrativos de forma clara.