Título: Mobilidade vai beneficiar aluno de baixa renda
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Fonte: O Globo, 12/04/2009, O País, p. 8

O GLOBO: Ao lançar a proposta, o senhor disse que um dos grandes benefícios seria garantir mobilidade: um estudante do Acre poder estudar no Rio. Mas a estrutura das federais para receber alunos de fora é sucateada.

O MEC pode bancar a mobilidade? HADDAD: Recriamos a rubrica de assistência estudantil, extinta há dez anos e uma das reivindicações da UNE. Este ano, conta com R$ 200 milhões do orçamento. Temos consciência de que esse novo formato exigirá, talvez, até dobrar a verba de assistência.

Há reitores com medo de que estudantes das capitais ocupem vagas no interior.

HADDAD: O número de alunos do Ceará que estudam no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), por exemplo, já foi matéria de jornal várias vezes, como boa notícia. A experiência internacional saúda a mobilidade, porque todos ganham.

Mas o receio dos reitores pode virar realidade? HADDAD: Não creio que isso vá acontecer. O principal beneficiário dessa medida é o aluno de baixa renda, que não tem condição de prestar mais de um vestibular, pagar taxa de inscrição e se deslocar pelo país. Os vestibulares não são feitos nacionalmente, como o Enem. Ainda assim, eu creio, pela experiência do ProUni, que a mobilidade não será muito grande.

Como fica o estudante que se preparou para fazer vestibular e agora vai ter um Enem? HADDAD: Posso garantir que o aluno que se preparou bem para o Enem, para o vestibular ou para os dois terá excelente desempenho no novo formato. Não haverá nenhum prejuízo. Estudos mostram que o desempenho dos estudantes é basicamente o mesmo em qualquer prova.

O que vai acontecer com os cursinhos pré-vestibulares? HADDAD: Já há cursinhos voltados para o atual Enem. Da mesma maneira, o novo Enem ensejará esse tipo de movimento.

Agora, quero crer que haverá um enfraquecimento desse tipo de proposta. O mundo não trabalha com o conceito de cursinho pré-vestibular. É uma anomalia brasileira em virtude de não termos alterado a tempo o formato atual de vestibular. Ele é próprio dessa anomalia. Com o novo formato, penso que alguns vão se adequar e haverá espaço ainda para isso. Mas o ensino médio é que será o grande beneficiado, porque vai poder se reestruturar de uma maneira muito mais adequada.

Para quem fala que o sr. está na lista dos candidatos nas eleições de 2010, o sr. diria que o slogan ¿o homem que acabou com o vestibular¿ pode ser usado na campanha? HADDAD: Sinceramente, não acho que nada em educação sirva de slogan para campanha, porque são processos muito lentos, de uma geração.

São resultados que se colhem com muita parcimônia. E em nenhum momento em pauto meu dia por consideração dessa ordem.