Título: Brechas no embargo
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 14/04/2009, O Mundo, p. 26

Obama elimina restrições a viagens e envio de dinheiro a Cuba e autoriza serviço de telefonia no país

Cumprindo promessa de campanha que reverte a política adotada pelo governo de George W. Bush, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou um pacote de mudanças que inclui o fim das restrições a visitas, remessas e envios de presentes de cubano-americanos para a ilha, a autorização para que empresas americanas forneçam serviços de telecomunicações e a permissão para que americanos enviem ajuda humanitária.

Obama, no entanto, não mexeu no embargo econômico existente há 47 anos, o que fez muitos analistas, como Peter Hakim, presidente do Inter-American Dialogue - um instituto de pesquisas sobre a relação entre os EUA e os países do continente - considerarem o ato uma espécie de teste para medir até que ponto imigrantes cubanos e seus descendentes, bem como os próprios americanos, reagem à aproximação entre os dois países. Aliás, a medida foi anunciada numa entrevista coletiva bilingue, em inglês e espanhol, e ocorre dias antes da Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, e após países do continente pressionarem por uma reaproximação.

- Os cubano-americanos são muito influentes nos EUA, ainda que venham perdendo força, tanto por conta de uma abordagem mais pragmática da nova geração cubana, quanto por conta do processo de reforma que vem sendo conduzido na ilha - diz.

De fato. Organizações de imigrantes que historicamente se pautaram por protestos contra os Castro e repúdio a tentativas de aproximação desta vez elogiaram as medidas de Obama:

- Estamos felizes. As medidas focam no apoio ao povo cubano. Por muito tempo, a política americana se concentrou em retórica dura em vez da adoção de medidas que podem acelerar mudanças democráticas - disse Jorge Mas Santos, presidente da Fundação Nacional Cubano-Americana, a maior organização no exílio.

- Este contato maior vai ajudar a acelerar as mudanças sociais, políticas e econômicas na ilha - afirmou Tomás Rodriguez, diretor da ONG de imigrantes cubanos Agenda: Cuba.

Este é o ponto destacado pelo próprio Obama, que ano passado, em campanha em Miami, prometera adotar as medidas, consideradas fundamentais para melhorar o padrão de vida dos cubanos e reduzir a dependência em relação ao regime.

- Não há melhores embaixadores para a liberdade do que os cubano-americanos - disse Obama. - É hora de deixar os cubano-americanos visitarem suas mães e pais, suas irmãs e irmãos. É hora de deixar o dinheiro deles tornar suas famílias menos dependentes do regime.

Pesquisa da rede de TV CNN mostra que 64% dos americanos apoiam o fim das restrições a viagens a Cuba. Nada menos que 71% acham que os EUA deveriam restabelecer relações diplomáticas com Havana. Muitos no Congresso também acham que a aproximação é vital para os interesses dos EUA. Tanto que um grupo de senadores apresentou no dia 31 um projeto de lei que suspende o embargo:

- Eu penso que chegamos a um novo patamar - afirmou o senador democrata Byron Dorgan, um dos defensores do projeto.

Em 2004, Bush ampliou as restrições a viagens e remessas a Cuba. Estudo da Universidade Internacional da Flórida e do Inter-American Dialogue mostrou que as dificuldades e taxações faziam o custo das remessas de cubano-americanos atingirem 15%, em média, do valor enviado (em comparação com 5% de custo para o envio a outros países). As remessas, que especialistas estimam em cerca de US$1 bilhão ao ano, não podiam ultrapassar US$1.200 anuais e o receptor só podia ser um parente direto (não filiado ao governo ou ao Partido Comunista). As viagens eram limitadas a uma a cada três anos e tinham amplos limites de bagagem e transporte de dinheiro.