Título: Guardião da Terra
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2009, Brasil, p. 13

Ainda neste semestre, o semiárido nordestino servirá de base para a instalação de um telescópio de monitoramento dos asteroides que podem se chocar com o planeta

Proclamado o Ano Internacional da Astronomia pela Organização das Nações Unidas, 2009 começou bem para o Brasil nesse campo. Pela primeira vez, o país terá um telescópio exclusivo de monitoramento de asteroides que podem colidir com a Terra. A estimativa é de que haja cerca de 100 mil objetos próximos do nosso planeta, medindo mais de 140km de diâmetro, tamanho suficiente para causar uma tragédia localizada. Desses, aproximadamente 1 mil têm mais de 1km e potencial para arrasar, nas previsões mais otimistas, um continente inteiro. Coordenado pelo Observatório Nacional, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, o telescópio deve ser instalado no primeiro semestre deste ano num município encravado no semiárido pernambucano.

Itacuruba, com 4 mil habitantes e extensão inferior a 500km2, foi o cenário escolhido para implantar a máquina, fabricada parte na Austrália e parte na Alemanha. O atrativo do município, que tem 300 dias de céu limpo e sem chuva, são as condições naturais. ¿Para fazer observações, precisamos de tempo seco e ausência de nuvens. Achamos a cidade ideal. Depois de iniciarmos as operações, se verificarmos algum inconveniente, podemos mudar de local, nada está descartado¿, afirma Daniela Lazzaro, astrofísica que coordena os trabalhos do novo telescópio dentro do projeto Iniciativa de Mapeamento e Pesquisa de Asteroides nas Cercanias Terrestres do Observatório Nacional, cuja sigla é Impacton.

A ideia, de acordo com Daniela, é acompanhar os objetos potencialmente perigosos que orbitam a Terra para conhecê-los melhor. ¿Não é só identificar e calcular o tamanho deles. Vamos estudar a trajetória precisa dos corpos e saber se estão em uma rota de colisão. Além disso, analisaremos as propriedades físicas desses objetos para verificar do que são feitos, se o material é denso, esponjoso. Até porque isso também determina o estrago que eles podem fazer, não apenas o diâmetro que têm¿, destaca a coordenadora do Impacton. Ela esclarece, entretanto, que os riscos de uma catástrofe por um choque com asteroides é pouco provável. ¿Diria que as chances estão na ordem de uma ocorrência de gravidade média a cada 100 mil anos. Mas, veja, isso é probabilidade, não é determinístico. Pode cair um este ano e outro no seguinte¿, diz a astrofísica.

Os desdobramentos de um choque com a Terra são a maior preocupação dos cientistas. ¿O risco é muito pequeno, mas com grandes consequências, então é melhor observar. Se sabemos hoje que daqui a uma semana um asteroide vai cair, a recomendação é relaxar, porque não teremos como fazer nada. Mas se identificarmos um choque que ocorrerá daqui a um ano, poderemos mandar um satélite com uma bomba para desintegrá-lo¿, explica Daniela.

Apesar de serem remotas as chances de um acidente com asteroides, astrônomos do mundo inteiro relataram, no último dia 2, a passagem muito próxima da Terra de um objeto semelhante ao que caiu em Tunguska, na Sibéria, em 1908. O evento de Tunguska é o mais recente, com consequências graves, da história. Em 30 de junho daquele ano, às 7h15, uma bola de fogo atravessou o céu e houve uma grande explosão. A liberação de energia derrubou cerca 2 mil quilômetros de floresta. Como não havia cratera, acredita-se que o objeto de cerca de 60m teria explodido 8km antes de atingir o solo, provocando um incêndio de proporções assustadoras. ¿A maioria dos corpos que chegam à Terra vem do cinturão dos asteroides, entre Marte e Júpiter. Mas são partes tão pequenas que não causam nenhuma consequência¿, diz Daniela.