Título: Arminio: Cheiro de populismo
Autor: Alvarez, Regina; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 16/04/2009, Economia, p. 19

Analistas alertam para gasto maior em época de eleições na América Latina

É preciso cautela no uso de políticas fiscais como ferramenta para combater a crise econômica, avaliaram alguns dos participantes do Fórum Econômico Mundial na América Latina. E, diante da perspectiva de eleições presidenciais em vários países da região, cresce o risco de um aumento do populismo. Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central (BC) e diretor da Gávea Investimentos, frisou que os países da América Latina têm grandes disparidades políticas e que, portanto, não se poderia analisar a região em um contexto único, citando as diferenças, por exemplo, entre Venezuela e Chile. Ele alertou ainda que há um "cheiro de populismo no ar", referindo-se às eleições presidenciais nos países latino-americanos.

- Mais países podem entrar no caminho do populismo - disse Arminio, sem especificar quais.

Também no World Economic Forum, o economista-chefe do Departamento de Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), Javier Santiso, afirmou que apenas um país europeu consegue atualmente manter superávit praticando política agressiva de incentivo fiscal. Na América Latina, diferentes países conseguiriam manter as receitas acima dos gastos públicos.

- O Brasil e o México estão gastando o mesmo que países europeus. Mas falta uma política de desenvolvimento nisso. Na região, o incentivo fiscal precisa de maior eficiência, e não de mais gastos - afirmou avaliou Santiso, para quem a crise pegou a região em um período de poucas eleições, o que muda neste ano e em 2010.

Para chileno, gastos públicos podem elevar dívida e juros

Serão dez eleições presidenciais na região nos próximos meses, lembrou Mauricio Cárdenas, do Brookings Institute. Felipe Larraín Bascuñán, da Universidade Católica do Chile, destacou que é preciso ser cuidadoso com os tipos de projeto que estão sendo financiados pelo aumento do gasto público:

- Tem-se que discutir a eficiência disso. Políticas desse tipo no Japão, nos anos 90, não levaram a lugar algum. E há os efeitos macroeconômicos, pois aumento do gasto público, a longo prazo, pode levar a uma alta no endividamento do governo e, consequentemente, juros mais elevados.