Título: Gabrielli: meio ambiente exigirá ações
Autor: Bôas, Bruno Villas; Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 16/04/2009, Economia, p. 20

Presidente da Petrobras diz que crise global afeta investimento no setor.

Os líderes de duas das maiores empresas petroleiras da América Latina - José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobrás, e o mexicano Raul Livas, executivo-chefe da Pemex - concordaram ontem que o maior problema do setor, no momento, é a crise financeira. Ela torna mais difícil, e mais cara, a obtenção de recursos para a expansão do setor. Gabrielli citou ainda que um segundo fator já exige maiores esforços das empresas, e se tornará cada dia mais desafiador:

- Independentemente da crise atual, há outra coisa que vai limitar a nossa atividade daqui por diante: a questão ambiental. O problema será encontrar uma forma de evitar problemas ambientais e criar uma capacidade de financiamento de acordo com as nossas necessidades - disse Gabrielli num debate no World Economic Forum na América Latina.

Segundo ele, a Petrobras já tenta ser mais eficiente em sua produção, para minimizar os danos ao meio ambiente:

- Infelizmente não temos como alterar a estrutura molecular do nosso produto.

Gabrielli, em seguida, advertiu que não há tempo a perder pois embora exista uma perspectiva de pelo mais duas décadas de constante expansão das atividades petrolíferas no Brasil, o passo essencial para isso precisa ser dado a curto prazo:

- O futuro está aí e há decisões a tomar. Os desafios requerem de nós coragem para tomar decisões. Pois as decisões a tomar hoje vão influir em todo o nosso trabalho ao longo de pelo menos mais dez anos - disse o executivo.

Livas, da Pemex, concordou. Em sua opinião o primeiro desafio será o de "ver como manter a máquina funcionando por mais 25 anos". Ou seja: criar uma estrutura financeira compatível com as necessidades, apesar do alto custo do dinheiro hoje:

- Creio que uma saída viável seria trazer para o nosso lado os bancos multilaterais, para complementar os investimentos do governo e do setor privado - sugeriu, propondo que os bancos Mundial e Interamericano de Desenvolvimento se tornem parceiros das petroleiras.

O mexicano endossou a preocupação com o meio ambiente, afirmando que a situação hoje não é sustentável:

- Vamos ter mesmo que mudar - afirmou.

Gabrielli disse que a Petrobrás investirá US$174 bilhões nos próximos cinco anos.

No debate, o empresário Marcelo Odebrecht, executivo-chefe do Grupo Odebrecht, disse que achava um paradoxo o setor petroleiro ganhar tanto destaque no Brasil quando seu potencial hidroelétrico é três vezes maior, e o custo de sua energia é menos da metade do custo do petróleo.

- Acho que é um absurdo a demora de cinco a dez anos para se obter uma licença para a construção de uma hidrelétrica - disse ele.