Título: Dantas diz à CPI que foi vítima de grampo ilegal
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 17/04/2009, O País, p. 10

Banqueiro usa depoimento para se defender e acusa Protógenes de ações irregulares.

BRASÍLIA. Oito meses depois e novamente munido do direito de ficar calado, o banqueiro Daniel Dantas voltou ontem à CPI do Grampo e repetiu sua estratégia de acusações e insinuações contra a Polícia Federal e o delegado Protógenes Queiroz, que o prendeu duas vezes na Operação Satiagraha. Desta vez, elevou o tom e afirmou que a investigação fez grampos ilegais contra o grupo Opportunity, e que tinha a verdadeira intenção de vazar estratégias comerciais e jurídicas para adversários, inclusive durante o processo de formação da supertele (fusão da Brasil Telecom e Oi/Telemar).

Dantas ainda aproveitou para divulgar sua defesa sobre a condenação de dez anos de prisão pela tentativa de suborno de um delegado da PF. Distribuiu laudo do perito Ricardo Molina dizendo que há montagem, inconsistências e desencontro no áudio e vídeo usados como prova.

Mesmo com habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o banqueiro não recusou qualquer pergunta durante quase seis horas.

Acompanhado de três advogados e uma maleta de documentos, manteve fala baixa ¿ às vezes murmurava ¿ e usou de ironia para rebater provocações.

¿ Na Operação Satiagraha boa parte dos grampos telefônicos foi ilegal ¿ disse Dantas. ¿ Tem 300 mil horas de gravação, parte legal, parte ilegal. Tenho um laudo explicando que as gravações estão mutiladas e têm enxertos. Segundo informação que nós temos, os originais desapareceram. As gravações estão adulteradas.

Dantas se limitou a dizer que houve interceptações fora do prazo dado pela Justiça, e insinuou que alguns números não estavam na lista aprovada pela Justiça, responsabilizando Protógenes.

Com exceção da acusação de que o presidente do STF, Gilmar Mendes, foi monitorado após a operação, não foram encontrados grampos ilegais na Satiagraha. Protógenes foi indiciado pelo uso irregular de pessoal da Agência Nacional de Inteligência (Abin). Hoje está afastado da PF, acusado de participação em campanha eleitoral.

¿ No caso da Satiagraha, era constante a antecipação das nossas iniciativas, a ponto de ficar claro que só poderia ser por interceptação telefônica.

Achava que era grampo privado. Mas conversas entre nosso jurídico aqui e nos EUA foram encontradas na casa do Protógenes. E havia um agente da Abin responsável por essa correspondência.