Título: Lula recebe telefonema de Obama e cobra mudança de atitude para a América Latina
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Fonte: O Globo, 17/04/2009, O Mundo, p. 25

Governo brasileiro espera avanços sobre desenvolvimento econômico, etanol e Cuba.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem diretamente ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, uma mudança de atitude dos EUA perante a América Latina. Numa conversa de 20 minutos por telefone, eles trocaram opiniões sobre os temas que vão dominar os debates ¿ com destaque para Cuba e para os efeitos da crise financeira mundial na região. A iniciativa do telefonema foi de Obama.

O governo brasileiro espera que a presença de Obama na reunião de Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, resulte em compromissos do líder americano voltados ao desenvolvimento da América Latina, com medidas para estimular o crescimento econômico da região.

Mais recursos para financiar os setores produtivos, novos investimentos e uma posição fechada em torno do etanol fazem parte das expectativas do Palácio do Planalto. Um passo político mais ambicioso em relação a Cuba também é aguardado.

Lula lembrou ontem que expressou sua preocupação em outras ocasiões a Obama: no encontro que ocorreu em Washington no mês passado e na reunião do G-20 (grupo formado pelas maiores economias do mundo), em Londres.

¿ É preciso que haja uma mudança na visão que os Estados Unidos têm da política latino-americana. Nós não temos mais Guerra Fria, não temos mais luta armada. Só existe um grupo que defende a luta armada, que são as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) ¿ afirmou o presidente.

¿ Os EUA precisam ter para a América Latina um olhar pensando no desenvolvimento tecnológico, na parceria e na contribuição.

Ahmadinejad virá ao Brasil em maio e pedirá apoio a programa nuclear Na visão do governo brasileiro, a máxima que diz que em encontro de presidentes não saem decisões caiu com a crise internacional. Prova disso foi a reunião de cúpula do G-20, em que foram assumidos compromissos importantes, como o combate aos paraísos fiscais e a antecipação, em dois anos, da revisão do sistema de cotas do Fundo Monetário Internacional (FMI), prevista anteriormente para janeiro de 2013.

O mais provável, segundo um alto funcionário do governo brasileiro, é que Obama guarde para a reunião que terá com os líderes da União Sul-Americana de Nações (Unasul) ¿ paralelo à Cúpula das Américas ¿ as boas notícias relativas a uma atuação maior dos EUA na região. Espera-se também que Obama fale pouco sobre Cuba aos chefes de Estado da América Latina.

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, desembarca em Brasília em 5 de maio para a primeira visita de um chefe de Estado iraniano desde os anos 60, quando esteve no país o xá Reza Pahlevi. Entre os temas a serem tratados com o presidente Lula, Ahmadinejad deverá pedir o apoio do Brasil a seu novo programa nuclear, que será apresentado nos próximos dias ao grupo 5 + 1 (EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha).

Embora o Brasil não faça parte do grupo, há reconhecimento mundial de que o programa brasileiro de enriquecimento de urânio tem fins pacíficos.

Animado com os sinais emitidos pelo presidente Obama, de que há interesse em uma aproximação com seu país, Ahmadinejad vem dizendo que pretende lançar as bases para uma nova relação com o Ocidente, o que significaria tornar mais transparente seu programa nuclear, que abrange desde a extração de urânio até a produção de combustível.

Ahmadinejad virá acompanhado de cem pessoas, entre as quais autoridades e empresários. Serão assinados acordos de cooperação econômica, técnica e cultural. Outros pontos da agenda bilateral são o aumento do comércio ¿ atualmente em torno de US$ 2 bilhões ¿ e a expansão da presença da Petrobras naquele país.