Título: Gabeira deu bilhetes a parentes para o exterior
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 21/04/2009, O País, p. 3

Para sobreviver politicamente, vou encarar de frente a morte política, diz, admitindo erro.

BRASÍLIA. Sem esconder o constrangimento diante da contradição com sua bandeira da ética pública, o deputado Fernando Gabeira (PVRJ) reconheceu ontem que também participou da ¿farra das passagens¿ na Câmara dos Deputados e cedeu bilhetes, até para o exterior, para parentes e terceiros. Mas resolveu divulgar e disse que vai transformar seu erro numa espécie de cruzada pessoal de moralização, para proibir de vez o repasse, a critério pessoal do parlamentar, de trechos aéreos pagos com dinheiro público.

Gabeira afirmou, porém, que não dará publicidade aos nomes dos beneficiários da sua cota pessoal. Considera que a emissão das passagens é de sua responsabilidade e que os passageiros não devem ser envolvidos em escândalos.

¿ A primeira reação que recebi foi o comentário cínico: ¿Ninguém escapa¿ ou ¿Ele nunca me enganou¿ ¿ disse Gabeira. ¿ Não acho que isso vai ser rapidamente superado.

E eu não me importo. Para sobreviver politicamente, vou encarar de frente a morte política. É mais importante que meu destino pessoal.

Gabeira justifica a distribuição de passagens com a mesma desculpa que os demais deputados denunciados: era prática na Casa.

¿ Eu não tive a capacidade de enxergar e questionar a Câmara. Na época, era essa a definição: cada deputado poderia gerir de forma soberana sua cota ¿ disse.

Dizendo-se arrependido, o deputado agora defende normas que são, na realidade, o que já define a legislação: as passagens são destinadas para uso exclusivo do parlamentar.

Qualquer desvio deve ser justificado, com ampla transparência e controle interno.

¿ Vou enfrentar o corporativismo.

Acho difícil encontrar um aliado na Câmara disposto a abrir tudo. Mas só peço para ser julgado depois que existir uma definição ¿ afirmou Gabeira.

O deputado avalia que seus adversários políticos irão usar seu gesto contra ele, mas disse estar disposto até a ¿abandonar a política¿.

E riu ao ser perguntado sobre a possibilidade de enfrentar um processo, inclusive no Conselho de Ética na Câmara. (Leila Suwwan)