Título: Crédito ruim, Bolsa no vermelho
Autor: Frish, Felipe; Martins, Marília
Fonte: O Globo, 21/04/2009, Economia, p. 17

Bank of America derruba pregão em NY e SP. Cenário econômico faz petróleo cair 8,8%

OBank of America (BofA) divulgou ontem um lucro de US$ 4,2 bilhões no primeiro trimestre, mas o aumento de suas provisões para perdas com empréstimos, para US$ 13,38 bilhões, fizeram suas ações despencarem 24,34%, arrastando os papéis do setor financeiro e levando o Dow Jones, da Bolsa de Nova York, a cair 3,56%, encerrando um período de seis semanas de alta. A queda em pontos, de 290, foi a maior em dois meses. Contribuíram para o pessimismo dos investidores as projeções do Conference Board para os próximos meses. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acompanhou o movimento e fechou em queda de 2,94%, em 44.433 pontos. Alguns analistas viram também um movimento de realização de lucros ¿ quando investidores vendem ações para embolsar os ganhos ¿ devido às altas das últimas semanas.

Os mercados europeus também foram afetados. A Bolsa de Londres caiu 2,49%, e a de Frankfurt, 4,07%. Em Nova York, o Citigroup desabou 19,45%, o JPMorgan Chase, 10,73%, e o Goldman Sachs, 4,64%. Pela manhã, circularam rumores de que 16 dos 19 maiores bancos americanos não teriam passado nos testes de estresse a que estão sendo submetidos pelo Tesouro. Um porta-voz do departamento desmentiu os rumores, explicando que o Tesouro ainda nem recebeu os resultados dos testes, que serão divulgados em 4 de maio.

Dólar tem alta de 2,14%, a R$ 2,244

Na Bolsa de São Paulo (Bovespa), apenas quatro ações, das 65 que compõem a carteira do Índice Bovespa (Ibovespa), tiveram alta no dia. Fora do Ibovespa, registraram alta expressiva Brasmotor e Whirlpool, com 18,46% e 3,90%, respectivamente.

As empresas fazem parte do grupo dono das marcas Consul e Brastemp e se beneficiam da redução do IPI para eletrodomésticos promovida pelo governo. O dólar acompanhou o humor dos mercados e subiu 2,14%: fechou a R$ 2,244, anulando boa parte da queda no mês.

O Conference Board, respeitado instituto de pesquisa americano, informou que, em março, seu índice dos principais indicadores recuou 0,3%, contra expectativa dos analistas de queda de 0,2%. Esse índice representa projeções para os próximos três a seis meses, considerando dez componentes, como valor de ações, base monetária, pedidos de seguro-desemprego, encomendas a fábricas e licenças para construção de imóveis. O Conference Board afirmou ainda que a economia continuará em recessão nos próximos meses, mas que a intensidade da retração vai diminuir.

A perspectiva desalentadora para a economia a curto prazo fez com que os preços internacionais do petróleo caíssem até mais de 8% ontem.

Em Nova York, o barril do tipo leve americano caiu 8,8%, para US$ 45,88. Em Londres, o barril do Brent recuou 6,5%, para US$ 49,86.

O lucro do BofA ficou bem acima do US$ 1,2 bilhão registrado no mesmo período de 2008 e mostrou recuperação frente ao prejuízo de US$ 1,8 bilhão dos últimos três meses do ano passado. Semana passada, Goldman Sachs, JPMorgan e Citi também divulgaram lucros trimestrais, o que alimentou um certo otimismo com relação ao desempenho do setor financeiro.

Mas, no caso do BofA, as provisões para perdas com financiamentos mais que dobraram em relação ao primeiro trimestre de 2008.

O BofA informou ainda que a aquisição do Merrill Lynch, em janeiro, contribuiu com mais de US$ 3 bilhões para seu lucro. E declarou sua intenção de devolver ao Tesouro a ajuda recebida ¿ de US$ 45 bilhões ¿ o mais rapidamente possível. Mas técnicos do Tesouro estudam a possibilidade de transformar os empréstimos concedidos em uma carteira de ações dos bancos, a fim de manter o nível de liquidez do mercado.

Um relatório divulgado ontem pelo Departamento do Tesouro dos EUA mostra que os grandes bancos americanos deixaram de cumprir o acordado, ao receberem recursos federais, de ampliar a oferta de crédito na economia, exatamente porque precisavam fechar seus balanços. O documento mostra que os bancos que receberam os maiores volumes de ajuda do governo reduziram, em média, sua carteira de empréstimos em 23% de outubro a fevereiro. Segundo os balanços dos bancos, o medo de aumento na inadimplência fez com que a maioria elevasse as exigências para a concessão de empréstimos. Por outro lado, a crise econômica também reduziu os pedidos de empréstimos por correntistas e empresas.

¿ O declínio do volume de empréstimos bancários refletiu as condições econômicas do mercado a partir de setembro de 2008, mas o secretário (do Tesouro) Timothy Geithner acredita que o volume seria ainda menor sem o pacote de estímulo financeiro do governo ¿ disse Isaac Baker, porta-voz do departamento.

Mesmo com ajuda, empréstimos recuam

Segundo o relatório, as 19 maiores instituições financeiras que receberam auxílio do Tesouro emprestaram um total de US$ 226,3 bilhões em outubro, volume que caiu a US$ 174,2 bilhões em fevereiro. E apenas três desses 19 bancos aumentaram o volume de dinheiro disponível para empréstimos.

Só em fevereiro, 21 bancos reduziram sua carteira em 2,2% com relação ao mês anterior. Um dos que aumentaram o volume de oferta de empréstimos foi o Morgan Stanley.

Entre os que mais reduziu está o JPMorgan Chase, cuja carteira encolheu 36% de outubro a fevereiro.

¿ O relatório mostra que os bancos apertaram suas exigências para empréstimos, o que agravou a crise, porque menos candidatos preenchiam os requisitos ¿ disse Dan Greenhaus, analista de mercado da Miller Tabak.

A REAÇÃO DOS MERCADOS

Os mercados de ações de vários países caíram ontem. As principais influências vieram da situação da carteira de crédito do Bank of America e das projeções abaixo do esperado do Conference Board, respeitado instituto de pesquisas americano, para os principais indicadores da economia, como pedidos de seguro-desemprego, valor de ações, base monetária, encomendas a fábricas e permissão para construções.