Título: Decisão técnica ganha viés político
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 21/04/2009, Economia, p. 19

Palavra de especialistas

Gilberto Braga - professor do Ibmec Paulo Levy - economista do Ipea

O medo da repercussão negativa da mexida inevitável na histórica caderneta de poupança está levando o governo a protelar o anúncio das medidas, na avaliação do economista Gilberto Braga, professor do Ibmec.

Segundo ele, a questão política está adiando uma decisão eminentemente técnica, para não trazer problemas para a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: ¿ Há mais de um mês, fala-se em mexer na poupança. É tempo suficiente para se tomar uma medida técnica. Essa demora mostra o caráter político da questão, para não passar a ideia de que o governo está garfando o ganho da poupança.

Essa indefinição sobre o futuro da poupança pode levar ao consumo, alerta Braga. A apreensão com as mudanças gera insegurança: em vez de usar a sobra do orçamento para poupar, as pessoas podem optar por consumir.

¿ A poupança tem dois tipo de investidores, os de baixa renda e os que têm aversão a risco. Em ambos os casos, a apreensão em torno das mudanças pode prejudicar a captação ¿ diz Braga.

A mudança na rentabilidade da aplicação é inevitável, diz Paulo Levy, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). É a medida natural para um país que quer ter uma taxa de juros mais baixa, segundo Levy. Ele afirma que os recursos da poupança são dirigidos para o financiamento habitacional e a atratividade maior da aplicação pode gerar distorções: ¿ Pode sobrar dinheiro para habitação e faltar para financiar, inclusive, a dívida pública.

No fim do mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve baixar novamente a Selic, hoje em 11,25% ao ano. A expectativa é de corte de um ponto percentual ou mais.

Se a Selic chegar a menos de 10%, vai tornar a poupança aplicação mais rentável do que investimentos de renda fixa de curto prazo, já que a caderneta não paga Imposto de Renda nem taxa de administração. Os fundos investimento lastreados em títulos do governo perderiam rentabilidade para a poupança, de acordo com relatório recente do CreditSuisse. (Cássia Almeida)