Título: Auxílio-moradia com imóvel próprio, compra de carro disfarçada de aluguel
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 19/04/2009, O País, p. 4

Casa estaria alugada a embaixada; veículo de R$109 mil não foi devolvido.

VITÓRIA. Marcos Vinícius Moreira Andrade, responsável por quase duas décadas pelas finanças do senador Gerson Camata, aponta dois momentos dessa experiência em que diz ter testemunhado o uso indevido de verbas do Senado pelo político capixaba. O ex-caixa, que trabalhou para Camata entre 1996 e 2005, disse que o senador capixaba recebe auxílio-moradia mesmo tendo um apartamento próprio em Brasília. Também afirmou que Camata usou a verba indenizatória destinada a aluguel de carros para comprar um veículo, burlando a natureza do recurso.

- No caso do apartamento, é fácil provar. Gerson e Rita Camata recebem auxílio-moradia. Mas o casal tem um apartamento em Brasília, atualmente alugado para uma embaixada. Serve para hospedar o corpo diplomático - disse.

"No fim do contrato, ele ficou com o carro"

Marcos disse ainda que Camata teria simulado o aluguel de um carro, um Golf GTI, avaliado em R$109 mil, quando na verdade estava comprando o veículo com a verba indenizatória do Senado.

- Ele fez um acordo por baixo dos panos com o dono da King Locadora, Márcio Cerqueira, para disfarçar a compra, como se fosse aluguel, pagando R$3 mil por mês. No fim do contrato, ele ficou com o carro. Não o devolveu.

Gestor financeiro de sete campanhas dos Camata (três do senador e quatro de Rita), Marcos disse que controlava com rigor o fluxo de pagamento, mas não conseguiu evitar um rombo na difícil disputa em que Rita Camata (PMDB) enfrentou e perdeu para Luiz Paulo Veloso Lucas (PSDB) a prefeitura de Vitória em 1996.

- O senador não queria que ela disputasse, mas Rita insistiu. Alegou que Luiz Paulo passava a maior parte do tempo no Rio. Mas acabou perdendo a eleição e deixando uma dívida elevada - conta.

Um dos principais credores, segundo o caixa, era o jornalista Nilo Martins, irmão do secretário de Comunicação do Palácio do Planalto, Franklin Martins, e do diretor da Agência Nacional do Petróleo, Victor Martins. Ele cobrava uma dívida de R$30 mil.

- Rita nunca se importou com o dinheiro. Não queria saber de sua origem. Quem sempre tinha de se virar era o senador - disse.

Pressionado pelos credores, conta Marcos, Gerson Camata teria estendido o pires ao então prefeito de São Paulo (PPB), Paulo Maluf.

- Ele pediu ajuda a Maluf e conseguiu US$200 mil. Foi a São Paulo buscar pessoalmente. Em troca, comprometeu-se a entrar para o partido de Maluf, junto com Rita, mas isso nunca aconteceu. Com o dinheiro em caixa, conseguimos renegociar as dívidas. Nilo Martins, por exemplo, aceitou receber R$20 mil.

Com mais de 40 anos de carreira pública, metade delas passada ao lado de Marcos Vinícius Andrade, o senador capixaba é descrito pelo ex-contador como um político à moda antiga, cada vez menos disposto a longas jornadas pelo interior do estado atrás de eleitores. Há mais de dois anos, porém, Marcos só acompanha de longe a trajetória de seu ex-patrão.

Senador montou empresa de importação de vinhos

Camata, segundo Marcos, é hoje amante de bons vinhos, que degusta diariamente, a ponto de montar uma empresa voltada para o setor.

- Descobri que ele criou a Wine Exportadora e Importadora há três anos, mas até hoje não sei muito bem para o que serve. Para amigos, Camata teria dito que a empresa estava lucrando muito.

O ex-caixa disse que, se esbarrar com o senador na rua, não teria vontade de cumprimentá-lo pelas decepções acumuladas ao longo dos anos.

- Cheguei a ser chamado de Marcos Camata, mas hoje prefiro ser apenas Marcos. Detesto o meio político. Entre os políticos não existe amizade, existem os amigos do poder - lamenta o economista.

COLABORARAM: Bruno Dalvi e Michel Filho