Título: Entrincheirado, cercado de acampados
Autor: Damé, Luiza; Garrone, Raimundo
Fonte: O Globo, 18/04/2009, O País, p. 3

Manifestantes pró-Lago reforçam vigília no pátio do palácio, com tendas e colchões.

SÃO LUÍS. Símbolo da cultura maranhense e sede do governo estadual, o Palácio dos Leões se transformou ontem em quartel da resistência contra a cassação do mandato do governador Jackson Lago (PDT). Desde dezembro do ano passado, políticos e representantes dos movimentos sociais se revezam numa vigília no pátio do palácio. A presença de aliados se intensificou nas vésperas dos julgamentos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e ontem foi reforçada, após a determinação da Justiça Eleitoral para que Lago deixe o poder.

O pátio interno do Palácio, cuja construção teve início no século XVIII, parecia um acampamento, com tendas, barracas, colchonetes e pessoas se revezando no microfone em defesa de Lago. Mas o clima era de tranquilidade, sem enfrentamentos.

Os aliados de Lago foram ao palácio, onde ele estava, disposto a não arredar pé. Levaram roupas, calçados e material de higiene pessoal. No fim da tarde, músicos maranhenses tentavam animar a militância. Enquanto Lago estava reunido com aliados para analisar sua permanência no palácio por pelo menos mais uma noite, o petista Bira do Pindaré, candidato a senador em 2006, tocava "Revolta Olodum", do grupo baiano.

Ontem, Lago desceu duas vezes do primeiro andar, onde fica seu gabinete, para falar com os aliados. A primeira foi de manhã, enquanto Roseana Sarney tomava posse na Assembleia Legislativa. Aliados de Lago hostilizaram profissionais da TV Mirante, afiliada da TV Globo, obrigando-os a deixar o palácio. A Polícia Militar precisou intervir para evitar agressões à equipe.

Governador discursou para militantes e pediu que continuassem resistindo

À tarde, Lago pediu que os aliados continuassem resistindo, mas de maneira ordeira:

- Estamos aqui para externar nossa inconformidade contra esse golpe, que violenta a vontade da maioria da população do Maranhão - discursou o governador cassado, seguido de gritos de "Sarney nunca mais".

Sempre cercado de parentes - o filho Igor Lago o auxiliava nos principais contatos - e de aliados, o governador cassado procurou manter a tranquilidade durante todo o dia, mas a rotina no palácio foi quebrada. Pessoas entravam e saíam a todo o momento, e parlamentares, políticos e representantes dos movimentos sociais se acumulavam nas salas, corredores e pátio. (Luiza Damé)