Título: Barraco no palácio
Autor: Damé, Luiza; Garrone, Raimundo
Fonte: O Globo, 18/04/2009, O País, p. 3

Cassado, Jackson Lago se aquartela na sede do governo do Maranhão, mesmo após posse de Roseana no cargo.

Menos de 12 horas após a cassação do mandato de Jackson Lago (PDT), a Assembleia Legislativa do Maranhão deu posse ontem a Roseana Sarney (PMDB), mas ela foi impedida de ocupar o Palácio dos Leões, sede do governo do estado. Cercado de aliados e de integrantes de movimentos sociais, Lago resistiu à decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não desocupou o palácio, ameaçando só sair de lá à força ou morto. Ele deve permanecer instalado em seu gabinete, cercado de apoiadores, pelo menos até a manhã de hoje, quando se reunirá com os aliados para decidir o que fazer.

Roseana, que começará sua gestão no Palácio Henrique De La Rocque - conhecido como Palácio dos Despachos, onde funciona a Casa Civil - não pretende forçar a saída de Lago da sede do governo. A intenção da governadora, que já comandou o estado e ontem renunciou ao mandato de senadora, é deixar que a Justiça se ocupe disso.

Lago mantinha até o fim da tarde a disposição de ficar no Palácio dos Leões até a decisão final do Supremo Tribunal Federal (STF), ao qual recorreu. Porém, por determinação do TSE, ele tem de esperar a decisão judicial fora do cargo. Para Lago, sua atitude não caracteriza desobediência nem desrespeito à decisão do TSE.

- Vou ficar enquanto for possível ficar porque precisamos contribuir para que o Maranhão reflita sobre a violência de que foi vítima, e (o povo) não perca a esperança de que é possível um dia se libertar dessa oligarquia que reduziu nossa população à pobreza - disse Lago.

Após seis anos, Roseana voltou ao comando do governo do estado afirmando que terá o apoio incondicional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para recolocar o "Maranhão no caminho do desenvolvimento". Antes de Lula, ela agradeceu a Deus e à Justiça:

- Estive com o presidente na segunda-feira, e ele me disse que faria de tudo para ajudar o meu governo e o povo do Maranhão - disse, criticando a gestão do adversário.

Roseana nomeia logo o secretário de Segurança

Ainda no exercício do cargo, após o TSE ter cassado seu mandato em 4 de março, Lago assinou vários convênios com prefeituras. O PMDB, que tentou impedir os convênios, estima que foram gastos R$800 milhões das reservas do Tesouro estadual.

Após a posse, Roseana foi para a casa do pai, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no Calhau. Ela deu posse ontem a dois secretários: Raimundo Cutrim (Segurança) e Sérgio Macedo (Comunicação). Apesar do clima de divisão no estado, com movimentos sociais e políticos fazendo manifestações, o clima era de tranquilidade na capital.

Hoje, Roseana deverá concluir a lista de secretários, que tomarão posse segunda-feira. Dentro de dez dias ela se submeterá a novos exames médicos, para decidir sobre a cirurgia para tratar um aneurisma cerebral. Passará o governo ao vice, João Alberto de Souza (PMDB).

Mesmo com poucas chances de reverter o quadro político no Maranhão, Lago disse acreditar que o Supremo ainda fará justiça, mudando a decisão do TSE. Para ele, o processo que resultou na cassação de seu mandato por abuso do poder político foi forjado por seus adversários e o TSE falhou no seu julgamento.

- Falar em abuso de poder contra o império Sarney, aqui no estado, soa ridículo - afirmou: - Não tenho nada, não tenho dinheiro algum, não sou sócio de nada. Enfrento esse império com a cara e a coragem. Sempre foi assim.

O governador cassado disse que seu futuro vai depender dos movimentos sociais, mas afirmou que não se afastará da política:

- Sou militante social desde a minha juventude. Enquanto o Brasil for injusto como é, não podemos nos afastar da vida pública.

O presidente do TSE, ministro Carlos Ayres Britto, defendeu a decisão do tribunal, tomada por unanimidade. Disse que Lago teve amplo direito de defesa:

- A alternância do poder já ocorreu. Se a governadora Roseana está encontrando resistência para ocupar o Palácio dos Leões, o problema deve ser resolvido pelas autoridades locais.

Sem os protestos dos adversários, a posse de Roseana na Assembleia foi marcada pela presença de populares e aliados eufóricos, com bandeiras. Grupos de bumba-meu-boi se apresentaram em frente à sede do Legislativo, onde ela recebeu a faixa governamental.

O presidente da Assembleia, Marcelo Tavares (PSB), garantiu a posse da governadora depois de longa reunião que entrou pela madrugada, quando os deputados aliados de Lago pretendiam eleger um novo governador de maneira indireta. Segundo eles, isso está previsto na Constituição estadual, no caso de vacância do cargo.

- A Assembleia não será instrumento de nenhuma vontade política - disse Tavares.

No Senado, o mandato de Roseana será cumprido por seu suplente, Mauro Fecury, aliado do grupo Sarney. Não é a primeira vez que ele chega ao poder sem a necessidade do voto popular. Foi prefeito biônico de São Luís por duas vezes (1979-1980 e 1983-1985), graças às ligações com Sarney. Com a bênção do padrinho, Fecury ainda se elegeu quatro vezes deputado federal e uma estadual. Em 1987, foi assessor especial da Presidência da República na administração Sarney. É dono do Centro Universitário do Maranhão (Uniceuma), a maior universidade particular do estado.

*Enviada especial e **Especial para O GLOBO

oglobo.com.br/pais