Título: Da Viúva para a viúva
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 18/04/2009, O País, p. 4

Mulher de Jefferson Peres pediu e recebeu R$118 mil por bilhetes não usados.

BRASÍLIA. A falta de regras sobre o uso de dinheiro público no Parlamento permitiu à viúva do senador Jefferson Peres (PDT-AM), Marlidice Peres, receber em dinheiro a cota de passagens do parlamentar, morto em maio. Também foi descoberto que o ministro Hélio Costa (Comunicações), senador licenciado, viajou com a família usando as cotas de seu suplente, Wellington Salgado (PMDB-MG).

Publicada pela "Folha de S.Paulo", a informação sobre as cotas do senador falecido foi confirmada pelo ex-presidente da Casa Garibaldi Alves (PMDB-RN), que admitiu ter autorizado a operação, em dezembro. Ele se mostrava arrependido do gesto em favor da viúva, que recebeu R$118.651,20, correspondentes aos créditos não utilizados por Peres entre janeiro e abril do ano passado:

- Se fosse hoje, não faria. Fiz em função dos apelos da viúva. Ela estava sem receber pensão e estava numa aflição imensa. Mas, hoje, quem está aflito sou eu. A Mesa pode ficar à vontade para rever minha decisão e solicitar a devolução do valor pago à viúva, se achar que o pagamento não ocorreu na legalidade.

Marlidice recebeu em dinheiro não só a reversão da cota de passagens de Peres, como também a cota extra a que ele tinha direito como líder do PDT (R$29 mil). Para o ex-advogado-geral do Senado Luiz Fernando Bandeira de Mello, a viúva não poderia ter recebido a cota do partido.

Depois de o site Congresso em Foco listá-lo como beneficiário de créditos do Senado - viajou com a família em janeiro para Miami usando parte da cota de Wellington Salgado -, o ministro Hélio Costa divulgou nota confirmando o que chamou de "empréstimo temporário" do suplente, a quem pretendia compensar com milhagens da TAM. O ministro anunciou que pediria à Mesa do Senado informações sobre a legalidade do procedimento. E disse que, "em caso de dúvida", não hesitaria em repor o custo total das passagens.

- Não vi problema em ceder parte de minha cota de passagens para o ministro, que não tem direito a cota. O Hélio sempre me reembolsa. Mas estou disposto a me submeter a qualquer decisão da Mesa, pois já não sei o que é certo ou errado - disse Salgado, que já permitia que uma funcionária de seu gabinete trabalhasse para o ministro, às custas do Senado.

oglobo.com.br/pais