Título: Tráfico de passagens usou nomes de ministros
Autor: Braga, Isabel; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 18/04/2009, O País, p. 5

Gilmar Mendes e Eros Grau, do STF, pagaram bilhetes, mas figuram como beneficiários das cotas de dois deputados.

BRASÍLIA. Vítima do suposto esquema de mercado paralelo de venda de passagens aéreas das cotas dos deputados, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, pediu ontem que a Procuradoria Geral da República investigue o caso. Na Câmara, depois de falar por telefone com Gilmar Mendes, o presidente Michel Temer (PMDB-SP) também determinou sindicância para apurar indícios, cada vez mais evidentes, de uso indevido de créditos de passagens dos deputados por agências de turismo, numa triangulação com empresas aéreas e funcionários da Casa.

Segundo o site Congresso em Foco, Gilmar e o também ministro do Supremo Eros Grau foram listados como usuários de passagens da cota dos deputados Paulo Roberto (PTB-RS) e Fernando de Fabinho (DEM-BA), respectivamente. Os dois deputados se declararam surpreendidos com a denúncia e disseram nem conhecer pessoalmente os ministros do Supremo.

Ministros divulgam comprovantes da compra

A suspeita é que passagens das cotas dos dois deputados tenham sido negociadas com agências de turismo por um valor mais baixo do que o de mercado e vendidas pelas agências, aos ministros do STF. Esquema que seria repetido com créditos de outros parlamentares, vendidos aos mais diversos clientes de voos aéreos.

Os dois ministros divulgaram comprovantes de que as passagens não foram pagas pela Câmara. Gilmar apresentou documentos informando que pagou à agência Terra Turismo os bilhetes com seu cartão de crédito. Eros demonstrou que os custos foram pagos pela Uerj, que o convidara para fazer uma palestra. Os documentos foram encaminhados à Câmara para serem analisados na investigação.

Deputados dizem sequer conhecer Gilmar e Eros

Por sua assessoria, Paulo Roberto declarou não ter qualquer relação com Gilmar Mendes. A assessoria disse ainda que em outubro passado o deputado demitiu um funcionário por suspeita de uso irregular de sua cota. Fernando de Fabinho afirmou não conhecer pessoalmente o ministro Eros Grau e acrescentou que, na próxima quarta-feira, vai apurar o que ocorreu.

- Foi em 2008. No ano passado, um outro funcionário cuidava da emissão de passagens, o Gonzaga. Ele não foi demitido, pediu demissão, e o atual responsável me disse que não sabe explicar o que ocorreu.

Perguntado se desconfia do funcionário, Fabinho afirmou:

- Não posso acusá-lo.

Em 2 de julho de 2008, a agência Terra Turismo vendeu a Gilmar seis passagens para o uso do ministro e de sua mulher, a funcionária do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Guiomar Feitosa. Gilmar e Guiomar usaram as seis passagens em viagens para Nova York e Fortaleza. Segundo documentos apresentados pelo ministro, um dos trechos foi pago com milhagem e os outros, com o cartão de crédito dele. A despesa somou R$9 mil e foi paga em cinco parcelas.

A viagem de Eros de São Paulo para o Rio aconteceu em março de 2008 e custou R$379,12 à Uerj. A venda foi feita pela Capri Turismo, em Brasília. Todos os bilhetes são da TAM.

oglobo.com.br/pais