Título: Insulza defende volta de Havana à OEA
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 18/04/2009, O Mundo, p. 26

Secretário-geral proporá fim da suspensão da ilha na próxima assembleia.

PORT OF SPAIN. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, propôs ontem que a entidade discuta em sua próxima Assembleia Geral, em junho, a revogação da resolução de 1962 que suspendeu Cuba da entidade. Insulza explicou, no entanto, que a medida, se tomada, não significará a reintegração automática da ilha, pois tal decisão dependerá também do governo cubano.

- É uma resolução obsoleta. Naturalmente podem haver outros obstáculos, outras dificuldades, mas essa resolução não serve para se enfrentar essas dificuldades. Em minha opinião, a OEA deveria eliminar essa resolução, que é um resíduo da Guerra Fria - argumentou o secretário-geral pouco antes do início da Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago. - Mas o regresso ou não de Cuba é uma decisão que precisa ser conversada com todos os Estados-membros à luz dos textos e resoluções que a OEA tem aprovado nos últimos anos. Se alguém for dizer que Cuba não deve estar na OEA, que diga por razões atuais e não por razões do passado.

A proposta de Insulza foi considerada por vários diplomatas presentes ao encontro uma reação ao processo de esvaziamento da entidade como principal fórum político do continente. Afinal, apesar de a Assembleia Geral da OEA ser o lugar considerado ideal para discussões como os efeitos da crise econômica no empobrecimento das Américas, parcerias estratégicas nas áreas de meio ambiente ou energia e combate ao crime organizado, o fato é que a Cúpula das Américas roubou este status.

Obama optou por dialogar com grupos regionais em vez da OEA

Até mesmo o presidente dos EUA, Barack Obama, decidiu se aproximar dos países da região através de três reuniões estratégicas durante esta cúpula (já que, até por razões de tempo, seria impossível a realização de encontros bilaterais com 33 países), em vez de uma abordagem negociada por meio de comissões da OEA. Ou seja, paralelamente à OEA aumentar a importância de três entidades distintas: a Comunidade do Caribe (Caricom, com a qual Obama se reuniu ontem), o Sistema de Integração Centro-Americano (Sica, que reúne a América Central) e a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), com as quais o líder americano se encontra hoje.

- Não há dúvida de que a estratégia de Insulza é uma maneira de reagir ao fato de que a OEA está perdendo relevância - diz um diplomata que já trabalhou na organização. - E uma das formas de chamar a atenção para o organismo é tentar trazer o processo de reaproximação de Cuba ao sistema multilateral das Américas, para o âmbito da OEA.

Cuba nunca deixou de ser um país-membro da OEA, mas o país foi suspenso de participar dos comitês e assembleias desde 1962 por pressão dos EUA em função do regime comunista da ilha comandado por Fidel Castro. Esta suspensão pode ser revogada, mas a participação efetiva do país no organismo é condicionada à democratização da ilha, e aí é que as dificuldades começam.

Além das dificuldades para se revogar a resolução, outro problema aparece como um possível entrave ao restabelecimento dos direitos de Cuba na OEA: a vontade do governo cubano. Na quinta-feira, o presidente de Cuba, Raúl Castro, disse que não pretende fazer com que o país seja plenamente reintegrado à entidade, e pediu o seu fim.

- Antes de (Cuba) entrar novamente na OEA, o mar do norte vai se unir ao mar do sul - desdenhou. (Gilberto Scofield Jr.)