Título: Commodities voláteis
Autor: Allan, Ricardo; Pires, Luciano
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2009, Economia, p. 26

No rastro de destruição deixado pela crise, nenhuma commodity oscilou tanto como o petróleo. Desde o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos o produto foi do céu ao inferno em poucos meses, lançando sobre importadores e exportadores uma série de incertezas. O Brasil, que compra óleo leve e derivados e vende petróleo pesado, ganhou e perdeu: o preço do barril despencou, o que contribuiu para as importações, mas acabou atrapalhando as exportações. A mudança no câmbio teve efeito semelhante.

O segmento de petróleo e gás ocupa o primeiro e o segundo lugares na lista de perdas no comércio com os Estados Unidos, com prejuízos totais de US$ 733 milhões em comparação com o período pré-crise. No ranking do comércio com a Europa, aparece em segundo lugar, com diminuição de US$ 490 milhões nas receitas (veja quadro). O diretor da consultoria Gas Energy, Marco Tavares, diz que, mesmo assim, apostar no setor ainda é um bom negócio. As expectativas são de manutenção dos preços internacionais, o que dá mais previsibilidade ao mercado.

¿O petróleo continua sendo rentável. Os cenários apontam para US$ 65 ou US$ 70 o barril ao fim de 2009, que são bons preços¿, completa. Nas contas de Tavares, a rentabilidade é baixa no contexto atual, mas ainda atraente. Segundo ele, há boas perspectivas de aumento de demanda em algumas regiões do mundo. Isso, reforça o especialista, terá efeito imediato sobre as nações que produzem ou dependem do produto. Ainda de acordo com o analista, a oportunidade é boa para a Petrobras se impor e traçar novas metas. A estatal é o principal agente do mercado de petróleo no Brasil.

A oscilação de preços também afetou o segmento agrícola. Números da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), por exemplo, mostram que a desvalorização das commodities exportadas pelo Brasil interfere bastante na queda das receitas obtidas com o comércio externo. ¿No último mês, os embarques de produtos do agronegócio totalizaram US$ 3,652 bilhões, numa redução de 18,6% em relação a igual período do ano anterior. As importações diminuíram 39,8%, alcançando US$ 692 milhões¿, informou a entidade, conforme balanço divulgado no início do mês.

O agronegócio brasileiro, que até hoje sustentou o superávit da balança comercial praticamente sozinho, vê com preocupação a indefinição do cenário. Embora a valorização do dólar frente ao real tenha ajudado os exportadores do campo, as previsões não são animadoras. Que o diga o setor de carnes, segmento em que o país é líder mundial. O enxugamento do mercado derrubou as cotações dos cortes bovinos in natura, arrastando para o fundo do poço grandes, médios e pequenos exportadores.

A tonelada de carne de boi, que em outubro do ano passado custava US$ 4,4 mil, vale hoje US$ 2,8 mil. ¿Antes da crise, tínhamos aumento do valor e queda no volume, porque a demanda estava em alta e a produção não acompanhava. Agora, até há demanda, mas ela está comprimida¿, explica Antônio Cançado, diretor-executivo da Abiec, que representa os exportadores de carne bovina. (LP e RA)

--------------------------------------------------------------------------------