Título: Mercado fechado para exportador
Autor: Allan, Ricardo; Pires, Luciano
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2009, Economia, p. 26

Empresas que vendem produtos brasileiros no exterior enfrentam dificuldades. Derrocada do consumo mundial reduz em 15% os embarques para os EUA e em 12% os carregamentos direcionados à Europa

Porto de Santos: Para 2009, projeção é de US$ 166 bilhões em exportações TOTAIS que, se confirmadAS, representarÃO UMA redução de 16,2% sobre o volume negociado em 2008 A crise internacional deixou os exportadores brasileiros sem saída. Encurraladas pela queda na demanda tanto por produtos básicos como por manufaturados em todo o mundo, as empresas enfrentam sérias dificuldades para redirecionar suas vendas. Os mercados estão fechados. Os embarques para os Estados Unidos e a União Europeia, duas regiões desenvolvidas que amargam uma profunda recessão, despencaram. Os norte-americanos estão comprando 15,2% a menos do que antes da derrocada econômica. As encomendas dos europeus diminuíram 12,1%. Por enquanto, as companhias não encontram alternativas a não ser suportar os prejuízos e esperar a poeira baixar.

¿A capacidade de voltar a produção para mercados não-tradicionais está muito comprometida, porque a crise é mundial. Todo mundo está comprando menos. Mesmo em tempos normais, a obtenção de novos mercados é uma tarefa árdua, que exige investimentos e persistência. Não é uma tarefa que possa ser feita com sucesso de uma hora para a outra¿ avalia o economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro. Levantamento feito pela Funcex a pedido do Correio mostra uma queda pronunciada nas vendas de produtos manufaturados para os EUA. Quanto à Europa, os maiores prejuízos são de itens agrícolas e minerais (veja quadro).

Entre outubro de 2008 e janeiro de 2009, período em que os reflexos da crise no comércio internacional pioraram, o Brasil vendeu US$ 7,256 bilhões para os Estados Unidos, com queda de US$ 1,306 bilhão em relação aos quatro meses iniciados em outubro de 2007. As maiores perdas foram registradas em petróleo e gás (US$ 432 milhões), petróleo refinado (US$ 301 milhões), produtos metalúrgicos (US$ 185 milhões) e aeronaves (US$ 82 milhões). Na mesma comparação, os embarques para a União Europeia caíram de US$ 14,931 bilhões para US$ 13,123 bilhões, numa diminuição de receita no valor de US$ 1,808 bilhão.

Nas exportações para a Europa, as maiores perdas foram em cereais (US$ 728 milhões), petróleo e gás natural (US$ 490 milhões), carne bovina (US$ 304 milhões), minerais metálicos não-ferrosos (US$ 154 milhões) e ligas de alumínio (US$ 138 milhões). ¿O principal efeito no petróleo foi a queda nas cotações, que passaram de US$ 150 o barril para menos de US$ 40. É natural que o maior impacto nos Estados Unidos seja de manufaturados e na Europa, de commodities. Isso acompanha o perfil das nossas vendas para essas duas regiões¿, diz Ribeiro. O embarque de máquinas e equipamentos sofre com o cancelamento de investimentos industriais e o de calçados, com a concorrência da China.

Ao todo, a Funcex está projetando exportações de US$ 166 bilhões neste ano, numa queda de 16,2% em comparação com os US$ 198 bilhões de 2008. Nas contas da fundação, o saldo comercial brasileiro ficará em US$ 14 bilhões, num tombo de 43,5% em relação ao ano passado, quando foi de US$ 24,8 bilhões. Este será o terceiro ano consecutivo de queda no resultado final das relações comerciais entre o Brasil e o mundo desde o saldo recorde de US$ 46,5 bilhões em 2006. ¿A tendência continua de queda no desempenho comercial, pois não se espera uma recuperação mundial antes de 2010¿, avalia Ribeiro.

Um segmento que está perdendo muito com a redução da demanda internacional é o de couros. Os prejuízos foram sentidos já em 2008, quando as vendas foram de US$ 1,88 bilhão, com queda de 14%. Em janeiro, o resultado foi muito pior: as empresas só conseguiram exportar US$ 73,6 milhões, o que representou uma contração de 60%. ¿Cerca de 65% das nossas vendas são para o setor automotivo e o moveleiro, que foram muito afetados pela crise. Por enquanto, estamos absorvendo os prejuízos, sem demitir funcionários. Mas não sei quanto tempo dá para aguentar¿, afirma o presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), Luiz Bittencourt.

O CICB fez um acordo com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex) para diversificar os mercados e aumentar o valor agregado dos produtos exportados. Segundo Bittencourt, a iniciativa está dando certo. Em 2000, o couro era destinado a 68 países. Os principais alvos continuam sendo Estados Unidos, China e Itália, mas agora o número de parceiros passou para 85 países. Também em 2000, 70% dos embarques eram de wet blue, o tipo cru mais barato, e 30% eram de semiacabados e acabados.

Agora, a equação se inverteu. Quando a situação voltar ao normal, a tendência é que as receitas de exportações cresçam com o novo mix. ¿No momento, estamos enfrentando muitas dificuldades porque a queda da demanda é geral. Não há como redirecionar as vendas¿, diz. Bittencourt não sabe estimar quando o mercado vai voltar aos níveis pré-crise, mas espera que já haja alguma recuperação no segundo semestre.