Título: Ex-caixa de Camata depõe, reafirma denúncia e entrega documentos ao MP
Autor: Dalvi, Bruno
Fonte: O Globo, 24/04/2009, O País, p. 4

Caso vai para procuradoria em Brasília, já que senador tem foro privilegiado.

VITÓRIA. Depois de denunciar uma série de irregularidades supostamente cometidas pelo senador Gerson Camata (PMDB-ES), o ex-assessor do parlamentar foi ouvido, ontem à tarde, pelo Ministério Público Federal do Espírito Santo (MPF-ES). Num depoimento de quase seis horas, o economista Marcos Vinícius Moreira Andrade, que foi caixa de confiança de Camata por 19 anos, manteve todas as acusações sobre as supostas irregularidades, como denunciadas em entrevista ao GLOBO.

Camata negou todas as denúncias, inclusive de que recebera propina mensal da Odebrecht, o que também foi negado pela empreiteira. Semana passada, ele foi à tribuna do Senado se defender e chorou, recebendo apoio de colegas.

O depoimento foi tomado pelos procuradores Carlos Vinícius Soares Cabeleira e Elisandra de Oliveira Olímpio e será enviado à Procuradoria Geral da República, em Brasília, porque o senador tem foro privilegiado.

Marcos Vinícius falou do lado sombrio das campanhas eleitorais de Camata e também de um gabinete por onde circulavam, segundo ele, recibos falsos, mesadas de empreiteiras e funcionários obrigados a pagar despesas do chefe com seus salários.

Entre os documentos entregues ao Ministério Público estão dois carnês de IPTU referentes à residência do senador no bairro Ilha do Frade, em Vitória, e a uma sala no edifício Nacap, no bairro Santa Lúcia, também na capital capixaba. Os carnês são de 2002 e têm anexados, mês a mês, os comprovantes de quitação realizados por meio de operação bancária.

O ex-assessor informou que utilizou caixas de autoatendimento do Banco do Brasil para debitar as parcelas em sua própria conta bancária.

¿ Esses carnês são apenas dois, mas todos os outros foram entregues ao senador e pagos por mim ¿ disse o ex-assessor.

Marcos Vinícius também entregou uma declaração do Edifício Nacap, assinada pela síndica Elídia Maria Franzin. No documento, ela atesta que as taxas de condomínio referentes à sala 202, de propriedade do senador, ¿sempre foram quitadas na data de vencimento e pessoalmente, através de cheque nominal ao condomínio, e de sua titularidade¿.

¿ Além disso, já solicitei ao banco as fotocópias dos cheques, que serão enviadas ao Ministério Público ¿ contou.

Os procuradores também tiveram acesso a laudos médicos emitidos no ano passado comprovando que o ex-assessor não tinha problemas de saúde, conforme alegou o senador. Os laudos foram feitos por médicos peritos do INSS, quando Marcos Vinícius deu entrada em pedido de auxílio-doença, em 27 de março de 2008. O pedido acabou negado. ¿Informamos que não foi reconhecido o direito ao benefício, tendo em vista que não foi constatada, em exame realizado pela perícia médica do INSS, a incapacidade para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual¿, diz trecho do laudo.

Advogado de Camata estuda medida contra ex-assessor O advogado Antonio Augusto Genelhu, responsável pela defesa do senador Gerson Camata e atual presidente da seccional capixaba da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES), disse que tomou conhecimento do depoimento prestado ao Ministério Público pela imprensa.

¿ Eu nem sabia disso. Só terei como me manifestar depois de conhecer o teor dos documentos apresentados pelo ex-assessor e saber até onde esses documentos são pertinentes ou não ¿ disse.

Genelhu afirmou ainda que está analisando os documentos repassados pelo escritório do senador Camata para decidir que medida judicial tomar contra o ex-caixa do senador.