Título: Banco público puxa crédito
Autor: Duarte, Patrícia; D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 24/04/2009, Economia, p. 17

Juros e "spread" caem, enquanto financiamentos crescem, diz BC. Cheque sem fundos bate recorde

O mercado de crédito brasileiro encerrou o primeiro trimestre ampliando os sinais de recuperação. Favorecido pela atuação agressiva dos bancos públicos, o segmento registrou em março nova redução dos juros e dos spreads (diferença entre custo de captação e o cobrado do consumidor final) e aumento da concessão de financiamentos. De acordo com o Banco Central (BC), no mês passado a taxa média dos empréstimos às famílias recuou para 50,1%, o menor patamar desde junho do ano passado.

¿ O crédito está voltando à normalidade e a expectativa é a de que a taxa de crescimento volte a ser mais forte, tanto para pessoa física quanto para as jurídicas ¿ afirmou o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Além disso, pelos dados do BC, após sete meses consecutivos de alta, a inadimplência se estabilizou, ao registrar ligeiro recuo de 0,1 ponto percentual, para 8,3% dos empréstimos (considerando atraso superior a 90 dias). Mas, segundo o Indicador Serasa Experian de Cheques Sem Fundos, divulgado ontem, o número de cheques sem fundos bateu recorde em março no país: foram devolvidos 24,6 a cada mil compensados no mês passado, o maior índice registrado em 18 anos, desde que o levantamento começou a ser feito, em 1991. De um total de 112,12 milhões de cheques compensados em março, 2,75 milhões foram devolvidos, um aumento de 6% em relação a fevereiro. Frente a março de 2008, o crescimento foi de 18,3%.

De janeiro a março 7,36 milhões de cheques foram devolvidos, ou 23,6 cheques a cada mil compensados, índice 19,2% maior que o do mesmo período de 2008, de 19,8 para cada mil. Para a Serasa Experian, o recorde é ¿decorrente da menor atividade econômica, da revisão dos investimentos e da redução no número de empregos formais¿ no país.

Segundo os dados do BC, o estoque das operações de crédito no país chegou a R$ 1,241 trilhão no mês passado, com crescimento de 1% no mês, o que representa 42,5% do Produto Interno Bruto (PIB), novo patamar recorde. Em abril, até o dia 8, a expansão acelerou para 1,4%. Já as concessões diárias de financiamentos cresceram 3,2%, chegando a R$ 7,079 bilhões. A recuperação é evidente, já que no trimestre há retração de 4,1%.

A ação dos bancos públicos tem sido essencial para este quadro. Entre setembro ¿ quando a turbulência entrou na sua fase mais aguda ¿ e março, o estoque de crédito dos bancos públicos cresceu 18,3%, enquanto o dos privados nacionais, 1,5% e o dos estrangeiros, 3,5%. Para Lopes, a normalidade será restaurada quando o setor privado ¿ sobretudo as instituições de pequeno e médio portes ¿ recobrar plenamente o fôlego.

¿ Os bancos pequenos não estavam emprestando por falta de funding.

Eles estão voltando a captar mais agora ¿ afirmou Lopes, referindo-se à medida que possibilitou a essas instituições captar recursos com cobertura integral do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que começou a valer no início de abril e, até o dia 12, já havia movimentado R$ 3,2 bilhões.

Calote aumenta entre empresas

Com mais crédito, as pessoas estão conseguindo refinanciar suas dívidas e, por isso, explicou o BC, a inadimplência registrou pequena queda em março por sua metodologia. Para as empresas, no entanto, o indicador de calote ainda cresceu, de 2,3% para 2,6%, pois o crédito ainda está mais enxuto para o setor produtivo.

O calote menor acabou ajudando na redução dos spreads bancários. Para as famílias, caiu de 41,4 pontos percentuais para 39,7 pontos, sendo a terceira redução mensal seguida. Para empresas, a diminuição foi de 1 ponto, levandoo a 18 pontos percentuais no mês passado. No dia 8, no entanto, eles haviam crescido ligeiramente: 0,1 ponto.

Com isso, os juros médios caíram de 30,9% em fevereiro para 28,9% ao ano no mês passado. O cheque especial, por sua vez, teve uma elevação nas taxas médias de 2,4 pontos percentuais, chegando a 169,1% ao ano.