Título: Banco Mundial: metade do G-20 é protecionista
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 24/04/2009, Economia, p. 19

Zoellick alerta que medidas podem agravar crise econômica. Para diretor-gerente do FMI, recuperação está longe

WASHINGTON. O presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, afirmou ontem que pelo menos nove dos países que compõem o G-20 (que reúne as principais economias industrializadas e emergentes) estão adotando ou estudam a adoção de medidas protecionistas.

Em reunião no início deste mês, o G-20 havia se comprometido a tomar medidas para evitar a piora da crise financeira global. O presidente do Bird, que já foi representante de Comércio dos Estados Unidos, disse também que quatro países ¿suspenderam restrições comerciais com uma mão e estabeleceram novas restrições com a outra¿.

Zoellick, que não citou os países individualmente, afirmou que o maior perigo com a adoção de medidas protecionistas neste momento de crise é que cada uma delas justifica que outros países adotem novas medidas protecionistas.

Isso criaria uma cadeia de barreiras que podem reduzir ainda mais o volume do comércio internacional, já largamente afetado pela recessão global e pela falta de crédito internacional.

Num encontro em novembro do ano passado, em Washington, os países do G-20 haviam prometido que não adotariam nenhuma medida protecionista para não piorar a crise global. O G-20 é formado por 19 países mais a União Europeia (UE).

¿ Desde o encontro do G20, há três semanas, nove países já tomaram ou pretendem adotar 23 medidas que restringem o comércio às custas de outros países ¿ disse Zoellick.

¿ Isso é quase metade do grupo. Um retrocesso para medidas protecionistas seria o tipo de choque negativo que poderia empurrar o mundo para um cenário de crise como o dos anos 1930.

Fundo dá empréstimos de US$ 147 bi este ano O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, por sua vez, afirmou que, a despeito de um ou outro ¿sinal verde¿ de recuperação em alguns países, a crise econômica ¿está longe de um fim¿. Segundo ele, se a crise bancária e de crédito não for equacionada de forma satisfatória e a curto prazo ¿ especialmente no epicentro da crise, ou seja, nos EUA ¿ os riscos para a economia mundial continuarão altos e podem ameaçar os esforços de recuperação.

¿ O início da recuperação tem de vir dos EUA e virá dos EUA ¿ disse Strauss-Kahn ¿ Nós ainda acreditamos que a retomada deve acontecer no primeiro semestre de 2010.

O diretor-gerente do FMI afirmou que o organismo está emprestando este ano ¿ até o momento ¿ para países em dificuldades US$ 147 bilhões, dos quais US$ 77,9 bilhões através das novas Linhas de Crédito Flexível (LCF), sem condicionalidades, para três países: México (US$ 47 bilhões), Polônia (US$ 20,5 bilhões) e, mais recentemente, Colômbia (US$ 10,4 bilhões).

Strauss-Kahn observa, no entanto, que outros países ainda devem recorrer ao FMI por causa do aperto nos mercados de crédito, especialmente no caso das economias emergentes.