Título: Aéreas avançam sobre passageiros de ônibus
Autor: Mendes, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2009, Economia, p. 27
Número de clientes das empresas de transporte terrestre encolheu seis milhões entre 2004 e 2007, tendência deve permanecer
As linhas de ônibus interestaduais perderam 5,8 milhões de passageiros: competição acirrada e pirataria As empresas de ônibus e aéreas vivem movimentos opostos, apesar de atuarem no mesmo segmento de transporte de passageiros. Enquanto o número de usuários de transporte terrestre despencou nos últimos anos, o setor aéreo experimentou franco crescimento. Os números que o digam. De 2004 a 2007 ¿ últimos dados divulgados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) ¿ o volume de usuários de ônibus no país encolheu seis milhões, passando de 133,69 milhões para 127,63 milhões. E a quase totalidade dessa retração (5,84 milhões de passageiros) ocorreu justamente nas linhas interestaduais, que enfrentam a concorrência direta do setor aéreo.
Além da rapidez, o preço é um atrativo cada vez maior dos aviões, em muitos casos bem próximos das tarifas de ônibus (veja quadro). Uma das explicações para o fenômeno é o custo bem parecido do avião e do ônibus para fazer o transporte. Segundo Sonia Rodrigues Haddad, superintendente de serviços de transportes terrestres da ANTT, o coeficiente do setor aéreo, que mede o custo do transporte por quilômetro, é de R$ 0,13 e o das empresas de ônibus é R$ 0,11. Diante das últimas estatísticas, a ANTT não espera crescimento para o setor de transporte terrestre para os próximos anos.
Para Renan Chieppe, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati), a queda verificada no setor é consequência da competição com o setor aéreo, da concorrência das empresas de ônibus clandestinas e até do próprio automóvel. ¿O passageiro do transporte aéreo não paga ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e, no rodoviário, há casos de até 18%. A Abrati está no STF (Supremo Tribunal Federal) solicitando a isenção¿, afirma. Ele também observa que o setor aéreo tem uma realidade bem diferente, com aeroportos equipados, situação distinta das estradas brasileiras e dos terminais rodoviários.
¿O aéreo tem uma operação de liberdade tarifária tal que a passagem é mais cara em alta temporada. Quando fazem promoções de passagens de R$ 50, esse valor não paga o custo. É financiado pela passagem mais cara. E, quando fazem isso, as aéreas capturam os passageiros que viajam de ônibus. Mas quando tem crise no setor aéreo, o ônibus tem que funcionar¿, diz.
O comandante Ronaldo Jenkis, diretor-técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), reforça que os preços das passagens aéreas têm registrado queda há algum tempo. ¿A aeronave é uma ferramenta geradora de receita. Tem que trabalhar a maior parte possível das 24 horas do dia¿, diz.
Mas quem pretende viajar de avião deve ficar atento, pois os preços das passagens variam muito, dinâmica bem diferente das empresas de ônibus, que têm preços fixos. Para conseguir uma tarifa acessível, o consumidor deve se programar. ¿Você consegue uma tarifa muito mais interessante quando compra com mais antecedência. Quando vai ficando próximo do horário do voo, a tendência é de aumento¿, observa. Horas antes do voo, o cenário se inverte e o usuário pode conseguir algum bilhete a preços baixos. ¿Sabe qual o produto mais perecível que existe? Poltrona de avião. Por isso, a companhia pode vender os bilhetes a qualquer preço. Mas nesses casos o passageiro tem que contar com a sorte para ter disponibilidade no voo¿, alerta.