Título: Doença de Dilma paralisa governo e oposição
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 27/04/2009, O País, p. 4

Analistas preveem "fase de solidariedade", com Lula sustentando apoio à candidatura da ministra em 2010

Passada a surpresa causada pelo anúncio da doença da ministra Dilma Roussef, analistas começam a desenhar possíveis cenários para os próximos meses de corrida presidencial.

O cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto de Pesquisa Universitária do Rio de Janeiro (Iuperj), prevê uma trégua da oposição de pelo menos quatro meses, tempo previsto para o tratamento da ministra-chefe da Casa Civil. Para o professor, não há clima entre adversários do governo para ataques focados em Dilma. Mas os efeitos atingirão também o governo.

O sociólogo Marcelo Ridenti, na Unicamp, aposta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá sérios problemas para encontrar um substituto para Dilma, caso as questões de saúde a impeçam de oficializar a sua candidatura à sucessão presidencial. Ao contrário da ministra, que não pertence a correntes internas do PT, Ridenti acha que a escolha de qualquer outro petista desencadeará uma luta interna no partido.

¿ Ela é uma candidata bem talhada por não fazer oposição clara a ninguém. Mesmo não tendo experiência nas urnas, Dilma não sofre desgastes e nem desagrada as correntes internas do PT. É difícil achar outro nome com o mesmo perfil ¿ sustenta o sociólogo.

Com o início do tratamento, Marcus Figueiredo espera que o mundo político ingresse no que chama de ¿fase de solidariedade¿, evitando grandes guinadas: ¿ A cúpula do PT e a oposição vão ficar de sobreaviso Não é caso rotineiro um futuro candidato a presidente apresentar uma interrogação sobre a sua capacidade física de se manter na disputa. A campanha não vai parar. Mas serão quatro meses em que os ânimos vão baixar. Será um momento de interrogação.

Os cenários traçados por Ridenti e Figueiredo se encontram quando eles especulam sobre o futuro de Dilma. Embora reconheçam que a medicina não é uma ciência exata, eles afirmam que os bons prognósticos apresentados pelos médicos farão Lula manter os planos de sustentar a candidatura de sua aliada mais próxima: ¿ O governo continuará apoiando Dilma se ela aguentar bem. Lula já avançou muito para recuar agora. Se tiver de mudar, ficará numa sinuca ¿ diz Ridenti.

Candidatura mantida e oposição silenciosa, resta saber como reagirá agora o eleitor.

Para Marcus Figueiredo, a notícia da doença praticamente só circulou entre os chamados formadores de opinião e ainda levará algum tempo para atingir as camadas mais populares da sociedade: ¿ Já houve casos, na história do Brasil, que candidatos doentes disputaram e venceram eleições. Mas não me recordo de nada parecido com esse caso. O que está em jogo é a Presidência da República.

Queira ou não, é um câncer e ninguém está disposto a embarcar num projeto político que não sabe qual será a continuidade.

Não se sabe o que vai acontecer daqui a dois ou três anos.

Os dois analistas reconhecem a dificuldade de apontar outros nomes governistas em condições de disputar a sucessão presidencial. Ambos descartam, contudo, o retorno da tese do terceiro mandato.

Ridenti arrisca um possível substituto: Fernando Haddad, ministro da Educação, criador do Prouni e recentemente empenhado em acabar com o vestibular. Mas o próprio professor da Unicamp admite que a escolha seria difícil, pela falta de experiência e visibilidade a tão pouco tempo do início da campanha: ¿ O PT hoje não tem nenhum nome forte.