Título: Catástrofe humana
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 27/04/2009, Economia, p. 14

Crise levará à calamidade e pobres sofrerão mais, alertam Banco Mundial e FMI

Gilberto Scofield Jr.* Correspondente ¿ WASHINGTON

No encerramento do encontro anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird), o presidente do Bird, Robert Zoellick, fez um alerta: a crise econômica poderá se transformar numa ¿catástrofe humana¿. No comunicado final do encontro, o comitê de desenvolvimento, órgão executivo conjunto de FMI e Bird, destacou que a crise está se transformando numa ¿calamidade humana e de desenvolvimento¿, ao aumentar a pobreza. Nesse contexto, foi aprovada a proposta de triplicar os recursos do Bird para US$ 100 bilhões nos próximos três anos, dos quais US$ 55 bilhões serão para infraestrutura e US$ 12 bilhões, para agricultura, em países que não têm dinheiro para programas de recuperação de suas economias.

Zoellick afirmou que os países em desenvolvimento estão sendo atingidos por segundas e terceiras ondas da crise e que é preciso aumentar o capital das instituições multilaterais para que a ajuda seja feita logo.

Ele defendeu também que os emergentes tenham mais voz na entidade: ¿ Ninguém sabe quanto a crise vai durar.

Também não sabemos o ritmo de recuperação.

Mas há um reconhecimento de que o mundo encara uma crise econômica sem precedentes e que os pobres estão sofrendo mais. Precisamos trabalhar para evitar esta catástrofe humana. A crise está mudando o mundo e o Banco Mundial precisa mudar com ela. Há amplo consenso de que os emergentes devem ter mais influência.

FMI destaca liderança do Brasil e de Lula

A discussão sobre as reformas que vão dar novos pesos aos países nas duas instituições deu o tom do encontro. O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, fez ontem um inesperado elogio ao Brasil como um dos principais líderes mundiais emergentes ¿ fenômeno diretamente ligado ao trabalho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E ponderou que mudanças no sistema de cotas não significam, necessariamente, mais influência sobre a diretoria do Fundo ou do Bird, ainda que sejam importantes num mundo em que o peso dos emergentes é cada vez maior. No encerramento da reunião, Strauss-Kahn usou o Brasil como exemplo de ¿liderança no FMI que não está ligada à cota¿: ¿ Reorganizar o Fundo é não apenas ter mais recursos, mas novas caras. Mas a voz dos países no Fundo não depende somente das cotas, e sim do que eles trazem para a mesa de negociações.

Veja o Brasil. Na alteração de 2008, aumentou sua cota no Fundo de 1,4% para 1,8%. É uma mudança pequena que não altera o fato de que o Brasil está se tornando um dos grandes participantes da economia mundial. E mostra como a comunidade internacional vê o Brasil e o papel de liderança do presidente Lula. Eu não estou dizendo que uma mudança nas cotas não seja importante. Mas elas não significam que Brasil, China ou Índia serão mais ouvidos na diretoria do FMI.

O diretor-gerente disse ainda que a perspectiva de recuperação da crise a partir de 2010 vai depender muito do trabalho dos países ricos, em especial dos EUA e de alguns europeus: ¿ O mundo não terá uma recuperação definitiva enquanto os países não recuperarem seus sistemas bancários.

O FMI aumentou sua estimativa sobre quanto os governos das 20 maiores economias do planeta estão destinando a estímulos fiscais para reativar o crescimento. Segundo levantamento do Fundo, os países do G-20 (que reúne as nações desenvolvidas e as principais emergentes) planejam gastar em média 2% de seu Produto Interno Bruto (PIB, conjunto dos bens e serviços produzidos pela economia) neste ano e 1,5% em 2010. Essas cifras referem-se a aumento dos gastos públicos e reduções de impostos.

Um mês atrás, o FMI estimara que os estímulos fiscais do G-20 somariam 1,8% do PIB em 2009 e 1,3% em 2010. Essas projeções foram elevadas após alguns países anunciarem novos pacotes de socorro. Segundo Strauss-Kahn, as medidas fiscais do G-20 ¿deverão ser suficientes¿, desde que o problema do saneamento dos bancos seja resolvido.

GM divulga reestruturação hoje e Chrysler faz acordo

A General Motors (GM) vai anunciar hoje os detalhes de uma grande reestruturação, que inclui mudanças em oito marcas e, provavelmente, o fechamento de fábricas, para tentar evitar a concordata. A mudança mais emblemática deverá ser a aposentadoria da marca Pontiac. O governo americano deu até 1ode junho para a GM se reestruturar ou pedir concordata. Já a Chrysler tem até quinta-feira para apresentar um plano. Ontem, um obstáculo foi transposto: o sindicato United Auto Worker (UAW) disse ter chegado a um acordo sobre cortes com Chrysler, Fiat (que deverá comprar 20% da fabricante americana) e o governo dos EUA.

(*) Com Bloomberg News e agências internacionais