Título: Correa obtém vitória histórica no Equador
Autor:
Fonte: O Globo, 27/04/2009, O Mundo, p. 20

Presidente é reeleito no primeiro turno, acumula poderes e avisa: "Ninguém mais vai interromper nossa revolução"

QUITO. Rafael Correa tornou-se ontem o presidente mais popular dos 30 anos desde o retorno do Equador à democracia, ao vencer, de forma inédita no primeiro turno, as eleições gerais que aconteceram no país. Pesquisas de boca-de-urna realizadas por quatro centros diferentes, incluindo o Instituto Gallup e a rede de TV Teleamazonas, e um sistema de contagem rápida de votos implementado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do país mostram que Correa obteve em torno de 56% dos votos, contra a média de 25% de seu principal concorrente, o ex-presidente Lucio Guttierez ¿ que, por sua vez, afirmou que só reconhecerá a derrota após os números oficiais serem divulgados.

Os resultados das pesquisas saíram logo após o fechamento das urnas, às 19h em Brasília, e os oficiais devem ser conhecidos na terça-feira. Segundo a Organização dos Estados Americanos (OEA), a votação ocorreu sem maiores incidentes nem suspeitas de fraude. Assim que as pesquisas foram divulgadas, Correa, da coligação esquerdista Aliança País, dançou junto com correligionários em sua casa em Guayaquil e, com os punhos cerrados, falou como vitorioso, antes de sair às ruas para ser ovacionado pela população: ¿ Hoje obtivemos uma vitória histórica, nossa quinta vitória consecutiva nas urnas. Agora, ninguém mais vai interromper nossa revolução. Minha prioridade continuará sendo os pobres e necessitados.

A quinta vitória veio depois das duas (primeiro e segundo turno) das eleições de 2006, além da aprovação do referendo para a realização da Assembléia Constituinte, em 2007, e a aprovação da nova Constituição, no ano passado.

Após votar logo cedo numa escola ao norte de Quito, Rafael Correa, um economista de 46 anos que assumiu a Presidência em janeiro de 2007, disse que governar o Equador ¿vem sendo uma experiência complicada e dura, mas cheia de alegrias e grandes feitos¿.

Segundo o analista Felipe Burbano, da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Flacso) de Quito, pode-se acusar Correa de autoritário e centralizador, mas não de não ter promovido mudanças significativas no Equador. O país possui uma alta instabilidade política e institucional, e é conhecido por seus presidentes que não chegam a cumprir os mandatos para os quais são eleitos.

¿ Apesar das medidas polêmicas, Correa é extremamente popular, uma figura muito forte, que vem investindo pesado em políticas públicas. Além disso, vem reformulando as instituições equatorianas. Resta saber agora como vai governar em tempos de crise econômica (quando não poderá gastar tanto dinheiro) e com uma oposição no Parlamento.

Burbano se refere ao fato de que, além do presidente e do vice, os 10 milhões de eleitores do Equador escolheram ontem prefeitos, governadores e os 124 deputados que irão compor a Assembleia Nacional (equivalente ao Parlamento). Esta assembleia é prevista na nova Constituição do país, levada a voto popular e aprovada em outubro de 2008.

Partido do governo deve eleger 61 dos 124 deputados Correa iniciou seu mandato em janeiro de 2007. No entanto, as eleições gerais foram antecipadas por determinação da nova Constituição que, ao contrário da anterior, ainda prevê um segundo mandato de quatro anos para o presidente. Correa, portanto, poderá se candidatar novamente em 2013.

É provável que o presidente obtenha maioria nas votações do Parlamento. Segundo as pesquisas, seu partido deve eleger 61 deputados, mas terá outros prováveis aliados. Além disso, como lembra Burbano, o Executivo conseguiu, pela nova Constituição, ter plenos poderes para dissolver a assembleia, convocando novas eleições.

¿ É como se um novo mandato começasse hoje, com um Executivo cada vez mais forte ¿ diz Burbano, afirmando que há, sim, o temor de que Correa tente se perpetuar no poder, a exemplo do venezuelano Hugo Chávez, de quem se diz seguidor.

Mas, segundo ele, mesmo esses plenos poderes não garantiriam a permanência de Correa no cargo, se o povo não estivesse ao seu lado. O maior desafio de Correa para manter sua popularidade é a crise econômica mundial. A queda nos preços do petróleo, produto do qual o Equador é exportador, pode comprometer os gastos do governo.

O Equador deve ter, ao contrário de 2008, um crescimento negativo este ano. Em nível internacional, preocupa a interferência do Executivo nas empresas estrangeiras que atuam no país, como as brasileiras Odebrecht e Andrade Gutierrez.

¿ É esperar para ver. Hoje, não há alternativa a Correa no Equador ¿ diz Burba

COLABOROU: Mariana Timóteo da Costa, do Rio