Título: Nos EUA, Corte decide sempre a portas fechadas
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 26/04/2009, O País, p. 9

Todos nós somos humanos e de vez em quando nos excedemos"

BRASÍLIA. O ex-ministro Célio Borja lembrou que, na Suprema Corte dos Estados Unidos, as decisões são todas tomadas a portas fechadas. Por isso, ninguém fica sabendo de eventuais destemperos nos debates jurídicos. Borja concorda que a repercussão das brigas hoje é maior por causa da TV, mas não chega a defender a edição das transmissões:

- No meu tempo, embora todas as deliberações fossem à vista do público, não eram transmitidas pela TV. Então, as pessoas não tomavam conhecimento. Todos nós somos humanos, temos temperamento e, de vez em quando, nos excedemos. Isso ficava circunscrito aos presentes, que eram advogados, que não davam repercussão nem o valor que atribuem hoje.

Borja também considerou muito grave os termos da discussão de quarta-feira. Mas ponderou que, num colegiado com pessoas tão diferentes, é esperado que esse tipo de desentendimento ocorra.

- Não diria que é normal. Foi um pouco além do que se espera de quem está julgando causas importantes. Mas todos nós somos capazes disso. Não devemos pensar que os ministros são monstros por isso. Eles são humanos como nós - afirmou.

No papel de advogado, Corrêa discutiu com Joaquim

O ex-ministro Maurício Corrêa preferiu não comentar o comportamento de Joaquim e Gilmar. Talvez porque ele mesmo já tenha se envolvido em uma discussão séria com o primeiro. No fim de 2006, quando Corrêa atuava como advogado numa causa no STF, Joaquim disse no plenário que o ex-ministro estava fazendo tráfico de influência. Isso porque, antes da sessão, Corrêa teria procurado o ministro, relator da causa, para falar sobre o processo. Corrêa cogitou inclusive processar Joaquim, mas foi dissuadido da ideia.

Quarta-feira, Gilmar disse que Joaquim não tinha "condições de dar lição a ninguém". Joaquim respondeu que Gilmar estava "destruindo a Justiça deste país" e, por isso, não poderia dar lição de moral. Joaquim também desafiou Gilmar a sair às ruas, para comprovar se era mesmo popular. Em seguida, disse que o presidente da Corte estava sempre na mídia. E que Gilmar não poderia tratá-lo como se fosse "capangas do Mato Grosso".

No dia seguinte à discussão, o clima já parecia ter melhorado no STF. Carlos Ayres Britto e Ricardo Lewandowski trabalharam para tentar amenizar os efeitos da briga, conversando com ministros dos dois times. No entanto, nenhum dos protagonistas do bate-boca tinha disposição a voltar a dialogar com o outro. Será uma questão de tempo, já que ambos se encontram, pelo menos, toda quarta e quinta-feira, quando há sessão no plenário.