Título: Nível da briga no STF surpreendeu ex-ministros
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 26/04/2009, O País, p. 9

Fim de transmissões ao vivo de sessões da Corte é uma das sugestões para evitar danos à imagem do Judiciário.

BRASÍLIA. O Supremo Tribunal Federal (STF) sempre foi cenário de discussões entre ministros. A novidade é que, ultimamente, o tom desses bate-bocas atingiu níveis inéditos. Segundo três ex-ministros da Corte, a troca de ofensas entre Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa chegou a um tom que seria impensável na época em que eles integravam o tribunal. Carlos Velloso, aposentado em janeiro de 2006, Maurício Corrêa, em maio de 2004, e Célio Borja, em março de 1992, concordam que as brigas entre ministros passaram a repercutir mais a partir 2002, ano de inauguração da TV Justiça, que transmite as sessões ao vivo.

Para Carlos Velloso, Barbosa foi agressivo ao acusar o presidente do tribunal de destruir a credibilidade da Justiça e de manter "capangas" em Mato Grosso. No entanto, Velloso acredita que Gilmar deveria ter sido mais hábil e encerrado a sessão assim que o clima esquentou. Velloso tentou sem sucesso telefonar aos dois ministros no dia da briga, para dar uma palavra de apoio.

- Sem dúvida, quem extrapolou mais foi o ministro Joaquim. O presidente foi muito atacado. Mas faltou a ele (Gilmar) sangue frio. Se eu estivesse presidindo o tribunal, quando a coisa começou a esquentar teria encerrado a sessão e ido embora.

Para eles, a pior discussão da história da Corte

Velloso e Corrêa consideram a discussão de quarta-feira a pior da história do STF:

- Presenciei discussões ásperas, mas essa foi a pior que vi - diz Velloso.

- No meu tempo, às vezes tinha uma discussão acalorada, mas nada tão contundente - concorda Corrêa.

Velloso e Corrêa acreditam que escândalos como esse podem ser evitados com o fim das transmissões dos julgamentos ao vivo pela TV Justiça, já que há ministros com propensão ao descontrole verbal.

Os dois ministros aposentados dizem que o melhor seria gravar as sessões e, depois, editar os principais trechos dos debates jurídicos, privando o público de discussões ásperas entre os integrantes do STF.

- Acho que o tribunal deveria reexaminar essa questão das transmissões ao vivo do julgamento e editar as sessões. Não me lembro de nenhum outro país que tenha transmissão ao vivo de sessões - disse Corrêa.

- Já tivemos muitas discussões no STF, mas naquela época não tinha transmissão ao vivo. A questão morria no âmbito das pessoas presentes e não tinha repercussão. Televisionar debate é prejudicial. Não é condizente com a Justiça o exibicionismo. Expor debates na TV é bom, mas editado, como fazem os grandes programas de TV. Ao vivo, não dá. A população espera de um tribunal o comportamento moderado e equilibrado dos seus membros. Acontece que os juízes são homens, não são anjos, e estão sujeitos a essas exaltações nos debates - disse Velloso.

"Não interessa à população saber quem está xingando"

Velloso criticou a programação da TV Justiça, que, segundo ele, poderia ficar mais interessante com as edições:

- Acho que é muito chato, nunca consegui assistir a um programa inteiro da TV Justiça. Poderia ficar mais atrativo se eles editassem, com os principais debates do ponto de vista jurídico. Isso é o que interessa. Não interessa à população saber quem está xingando o outro.