Título: Juros: redução do BC deve ser menor
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 26/04/2009, Economia, p. 26

Analistas estimam corte de apenas 1 ponto percentual na taxa básica.

BRASÍLIA. Apesar de o país estar saindo, provavelmente, de uma recessão no primeiro trimestre, já admitida por técnicos do Ministério da Fazenda, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve voltar a vestir sua carapuça mais conservadora e reduzir o ritmo de cortes da Selic esta semana, nos dias 28 e 29, quando volta a se reunir. Na avaliação da maioria do mercado, o Banco Central (BC) deve reduzir em 1 ponto percentual a taxa básica de juros, hoje em 11,25% ao ano, e desagradar ao setor produtivo e ao mercado. No encontro anterior, o corte foi de 1,5 ponto, pegando de surpresa muitos agentes. Um repeteco de ousadia, porém, não é totalmente descartado por economistas.

- Já há sinais de recuperação da economia, e é preciso levar isso em consideração. A política monetária demora nove meses para surtir efeito e, se houver exagero agora, pode acabar obrigando a uma elevação de juros no próximo ano - defende o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles.

Para ele, um bom exemplo, apesar de ainda estar encolhendo, é a produção industrial, que já vai dar sinais de recuperação. Ele calcula que, em março, deve registrar retração de 10%, numa comparação anual. Ainda ruim, mas bem melhor do que os 17% de queda vistos em janeiro e fevereiro. Além disso, argumentam os mais conservadores, o BC vem emitindo sinais claros de que vai pisar no freio.

O presidente da instituição, Henrique Meirelles, na semana passada, por exemplo, alertou para o "otimismo exagerado" e disse que ainda é preciso ficar atento à crise. Para muitos, foi um alerta de que o Copom vai reduzir a velocidade de corte.

Remuneração da poupança vai pesar na decisão

Além disso, avalia o economista-chefe da corretora Ativa, Arthur Carvalho, as recentes medidas do governo para estimular o consumo vão entrar na conta, e isso reduz os espaços para cortes mais fortes nos juros. Ele lembra, por exemplo, as reduções de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para eletrodomésticos e materiais de construção, e a renovação da isenção para carros.

- A inflação está controlada, não é um problema. Mas o nível de juros que se está buscando (de um dígito) é desconhecido. É bom ter cautela - argumenta Carvalho, para quem também o Copom vai reduzir a Selic para 10,25%.

Há, porém, os mais otimistas. O economista-chefe do banco Itaú, Tomas Malaga, apesar de apostar num corte de 1 ponto, acha que caberia redução de 1,5 ponto, já que os dados econômicos ainda são fracos. O Itaú faz parte do Top 5 - instituições financeiras que mais acertam as previsões do boletim semanal Focus do BC. Para esta reunião do Copom, a mediana do Top 5 aponta para corte de 1,5 ponto.

- A recuperação da economia é gradual, a situação não é normal. Mas o BC tem dado declarações de que vai adotar um ritmo mais moderado - explica Malaga, que prevê uma taxa básica no fim de 2008 em 8,75% anuais, embora os Top 5, em conjunto, estimem 9,25%.

O setor produtivo também enxerga espaço para cortes maiores. O gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, diz que a situação da economia, abalada pela crise global, não "mudou radicalmente":

- Se o BC cortar a Selic em 1 ponto será uma frustração.

A questão da poupança, segundo especialistas, também pode deixar o BC mais cauteloso esta semana, para evitar que a caderneta tenha rentabilidade ainda maior do que a de muitos fundos de investimento. Dentro do BC, o consenso é que se a Selic ficar perto de 10% ao ano, o problema é contornável. Abaixo disso, o cenário se complica.

Hoje, a remuneração da caderneta é fixada por lei pela TR - em torno de 2% ao ano - mais 6% ao ano, e é isenta de Imposto de Renda. Com a Selic cada vez menor, muitos fundos já não alcançam esta rentabilidade. Por isso, nas últimas semanas, a equipe econômica elabora uma nova fórmula de remuneração da caderneta.