Título: Inadimplência atinge extremos da pirâmide social, de forma diferente
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 26/04/2009, Economia, p. 26

FANTASMA DO CALOTE: Para especialista, há "um efeito de contaminação" no país

Brasileiro leva mais tempo para quitar dívidas. No cartão, período dobrou

Ao contrário de outros anos, a inadimplência está batendo à porta com mais frequência das famílias que ficam nos extremos da pirâmide social brasileira. O que muda é o tipo da dívida, revela pesquisa da Fecomércio-RJ em parceria com a consultoria Ipsos. Entre os mais ricos, as compras são parceladas com cartão de crédito e cheque especial. Já nos lares de menor renda, as dívidas se concentram nas mãos de agiotas, amigos e em financeiras.

O brasileiro também tem ficado pendurado em dívidas por mais tempo. Segundo o Banco Central (BC), a dívida do cartão de crédito demorou 52 dias para ser quitada em março. Em janeiro, eram necessários 43 dias. Em março de 2008, o consumidor levava um mês. No cheque especial, passou de 20 dias, em fevereiro, para 21 dias no mês passado. No empréstimo pessoal, o tempo para sanear a dívida passou de 484 dias, em março de 2008, para 560 dias no mês passado.

- Há um efeito de contaminação, por isso as restrições ao conceder crédito aumentaram. A classe AB contraiu dívidas no cartão de crédito e no cheque especial. Eles compraram carros e se surpreenderam com a alta do dólar, depois de viagens ao exterior. A compra de imóvel aparece como custo fixo. Já as classes C e DE se endividaram com eletrodomésticos e roupas - diz Alcides Leite, professor da Trevisan e consultor da Equifax.

Lojista evita cheques e parcelamentos longos

Segundo a Fecomércio-RJ, as dívidas feitas no cartão de crédito entre as famílias da classe AB do país já representam 64% do endividamento do grupo, contra 43% do registrado em 2008. Em empréstimos feitos em financeiras, a fatia pulou de zero para 5% no período. Entre a classe C, a representatividade do empréstimo feito com amigos e agiotas pulou de 7% para 18%. Na classe DE, o mesmo tipo de dívida pulou de 12% para 14%.

A TeleCheque mostra outro dado preocupante. O número de inclusão de cheques no Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF) está em alta, após dois anos em queda.

- Isso mostra tendência maior ao calote. Entre janeiro e março, o total de cheques no estoque do CCF (inclusão menos exclusão) aumentou em 100 mil. No mesmo período de 2008, o estoque teve queda líquida de 13 mil - afirma Antônio Praxedes, vice-presidente da TeleCheque.

A loja de calçados Vica Maros, no Via Parque Shopping, tem evitado o cheque e parcelamentos longos no cartão de crédito, já que as administradoras de cartão aumentaram suas taxas para a antecipação de pagamento parcelado. Marcelo Barbosa, presidente do Grupo Pragmática, diz que as empresas devem ter mais velocidade na hora de constatar a inadimplência.