Título: Ex-diretor do Senado usou babá como laranja
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Fonte: O Globo, 25/04/2009, O País, p. 5

Empresa aberta por João Zoghbi em nome da empregada recebia dinheiro de banco que fez negócios com Congresso

BRASÍLIA. Considerado um dos diretores mais poderosos do Senado até o mês passado, João Carlos Zoghbi usou uma empregada como laranja para receber R$ 2,3 milhões do Banco Cruzeiro do Sul, que faz negócios com a Casa. Segundo reportagem da revista ¿Época¿ deste fim de semana, Zoghbi usou o nome de Maria Izabel Gomes, uma senhora de 83 anos que foi sua babá e ama de leite, para embolsar o dinheiro, em 2007.

Os pagamentos começaram depois que o Senado renovou um contrato milionário com o banco para oferecer crédito consignado aos servidores. A negociação foi comandada pelo próprio Zoghbi, que na ocasião era o diretor de Recursos Humanos do Senado.

Nos últimos meses, o ex-diretor se envolveu em outros escândalos: foi acusado de nepotismo, de uso indevido de apartamentos funcionais e participou até da farra das passagens do Congresso. Ele perdeu o cargo de direção em março, mas ainda recebe salários do Senado, mesmo estando afastado do trabalho.

Ex-babá hoje é sócia de três empresas em Brasília De acordo com ¿Época¿, Zoghbi se refere à ex-babá, que mora em sua casa, como sua ¿mãe preta¿. Nos últimos três anos, ela evoluiu da condição de isenta no Imposto de Renda à de sócia majoritária de três empresas em Brasília.

Uma dessas empresas, a Contact Assessoria de Crédito, da qual ela tem 61% das cotas, foi usada para receber o dinheiro do Cruzeiro do Sul. Oficialmente, Maria Izabel também aparece como sócia das empresas DMZ Consultoria Empresarial e DMZ Corretora de Seguros.

Perguntado sobre o assunto por ¿Época¿, Zoghbi disse que seus filhos Ricardo e Marcelo, ambos dentistas, são sócios ocultos da empresa, registrada no ramo de consultoria financeira.

Durante a entrevista, sua mulher, a ex-servidora do Senado Denise Araújo Zoghbi, chegou a oferecer um carro ao repórter para que a denúncia não fosse publicada.

¿ Essa reportagem vai acabar conosco, o João vai ser demitido.

O que eu posso fazer? Dinheiro? Se eu te der meu carro, você não publica? ¿ perguntou ela.

Desde 2006, o Banco Cruzeiro do Sul movimentou R$ 380 milhões em empréstimos a servidores do Senado. O diretor do banco Sérgio Capella afirmou que os pagamentos à Contact foram feitos por causa da atuação da empresa como intermediária nos contratos com o Senado. Capella disse que a consultoria ¿fez jus¿ a comissões pelo serviço. Zoghbi admitiu problemas nos repasses.

¿ Sei que há um conflito de interesse, que essa história me compromete ¿ admitiu ele aos repórteres de ¿Época¿.

Ex-diretor empregava sete parentes no Senado A nova denúncia complica ainda mais a situação do ex-diretor, que era considerado o substituto natural de Agaciel Maia como diretor-geral do Senado.

Até o Supremo Tribunal Federal (STF) editar a súmula contra o nepotismo nos três poderes, no fim do ano passado, ele empregava sete parentes no Senado: a mulher, um irmão, a cunhada, os três filhos e até uma ex-nora.

Em março, Zoghbi perdeu o cargo depois de o jornal ¿Correio Braziliense¿ noticiar que, mesmo sendo dono de uma mansão no Lago Sul de Brasília, ele mantinha um apartamento funcional para um dos filhos. Esta semana, também veio à tona que sete pessoas da família Zoghbi usaram passagens aéreas emitidas pela Câmara.