Título: Após bate-boca, Gilmar e Joaquim se calam
Autor: Souza, Isonilda; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 25/04/2009, O País, p. 8

Presidente do STF diz que cogitou interpelar ministro, mas desistiu; os dois recebem apoios pelo país

GOIÂNIA e BRASÍLIA. Dois dias depois do bate-boca com o ministro Joaquim Barbosa, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, admitiu ontem, em conversas reservadas em Goiás, que chegou a cogitar fazer uma interpelação judicial ao colega. Gilmar disse que desistiu da ideia para preservar a imagem da instituição.

O presidente do STF participou, em Goiânia, da inauguração do serviço de Defensoria Pública no Tribunal de Justiça.

Publicamente, Gilmar evitou falar sobre o episódio. Ele não respondeu a perguntas de jornalistas sobre a discussão com Joaquim Barbosa na sessão de quarta-feira.

¿ Não vou falar sobre isso.

A Corte já se pronunciou, e a matéria está devidamente regulada ¿ desconversou Gilmar, referindo-se à nota assinada por oito ministros em defesa do STF.

Lula desconversa sobre a crise no Supremo Em Itumbiara (GO), Lula desconversou sobre a crise: ¿ Não pergunte para mim, pergunte para o STF. Já tomo conta do governo e já é demais para mim.

O mal-estar no plenário do STF teve início após Gilmar, ao proclamar o resultado de um julgamento, fazer críticas à visão apresentada por Joaquim.

O ministro reagiu cobrando respeito do presidente da Corte.

Joaquim respondeu que Gilmar não estava falando com ¿seus capangas de Mato Grosso¿.

Gilmar ontem informou que não encontrou Joaquim após a discussão, mas afirmou que ¿falará com ele no momento oportuno¿. E reafirmou não há crise no Supremo: ¿ A situação hoje no Judiciário é a melhor possível.

Joaquim, pelo segundo dia, preferiu o silêncio. Ontem, no Rio, foi cumprimentado no aeroporto e recebeu elogios por sua atitude. No Centro da cidade, o ministro posou para fotos com quem pedia e distribuiu autógrafos. Foi saudado por frequentadores do Bar Luiz, um dos mais tradicionais do Centro do Rio, na Rua da Carioca. A amigos, disse estar feliz de ter verbalizado o que pensa. E que não se arrepende de ter dito que Gilmar está destruindo a credibilidade do Judiciário.

Ministros do STF afirmaram ao GLOBO que não têm a intenção de isolar Joaquim. Segundo um ministro, a nota divulgada após o bate-boca foi uma forma de apoio ao STF como instituição e não ao presidente.

¿ É uma nota formal, protocolar, institucional, que no fundo é uma reafirmação de prestígio à instituição. Não sei quem foi que interpretou isso como apoio a Gilmar. Não é.

Mas Gilmar também tem recebido apoio. A Executiva do DEM divulgou ontem nota manifestando ¿apoio, confiança e respeito¿ a Gilmar.

Segundo o texto, o ministro ¿cumpre com rigor e responsabilidade institucional o papel de guardião da Constituição e do Estado de Direito¿. A nota ainda diz que Gilmar é ¿pensador e estudioso da ciência jurídica¿, além de ¿exemplo de homem público que age com correção e profunda consciência institucional¿.

O documento leva a assinatura do presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ).

Demóstenes acompanha e elogia Gilmar em Goiás Em Goiânia, Gilmar recebeu elogios de integrantes do Judiciário por sua atuação no STF.

Amigo de Gilmar e ex-procuradorgeral de Justiça de Goiás, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) acompanhou a visita e não poupou elogios: ¿ O Brasil lhe é grato, ministro, porque a voz firme do presidente do Supremo ecoou, e os inimigos dos direitos individuais foram barrados, e escutas clandestinas foram estancadas pela Justiça.

Os dois foram alvo de grampo telefônico e tiveram uma conversa divulgada pela imprensa, ano passado.

O presidente do TJ de Goiás, desembargador Paulo Teles, considerou normal o embate e minimizou seus efeitos para o Judiciário.

¿ Isso sempre ocorre a portas fechadas. A diferença é que agora foi a portas abertas.

Ele também elogiou a atuação do presidente do STF: ¿ O Brasil lhe reconhece como defensor dos postulados do Direito.

Especial para O GLOBO