Título: Não há vagas
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 25/04/2009, Economia, p. 21

Desemprego chega a 9%, maior taxa desde 2007. Entre jovens, índice atinge 21%

Com mais de dois milhões de desempregados, o que não se via desde setembro de 2007, o mercado de trabalho em março mostrou sinais mais evidentes da crise financeira global que desembarcou por aqui no fim do ano passado. A taxa de desemprego chegou a 9%, superior aos 8,5% de fevereiro e também aos 8,6% de março do ano passado.

Entre os jovens, a situação é ainda mais grave, com o indicador na casa dos 21%. De acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego, divulgada ontem pelo IBGE, não houve geração de vagas para absorver os 141 mil trabalhadores que entraram no mercado em março. Outro sinal incontestável de que o mercado de trabalho nas regiões metropolitanas ficou pior está na alta do desemprego frente ao ano anterior, algo que não acontecia há um ano e três meses.

¿ Em março, houve uma demanda forte por ocupação, e o mercado não gerou postos de trabalho. O resultado dessa equação foi um aumento na taxa de desemprego ¿ afirmou Cimar Azeredo, gerente da pesquisa do IBGE.

A taxa veio dentro do esperado pelos analistas. Mesmo assim, a pequena geração de vagas acendeu o sinal amarelo para alguns especialistas.

Segundo o professor da PUC José Márcio Camargo, nos últimos anos o mercado tem criado cerca de 70 mil vagas de fevereiro para março: ¿ Agora, foram abertos apenas nove mil postos. E a alta do desemprego começa a aparecer no salário.

Houve queda de 0,2% (no rendimento) de um mês para outro.

Economista prevê taxa de 11%

Segundo Camargo, a taxa de desemprego deve continuar subindo, como em todo início de ano. Desta vez, porém, com mais intensidade.

Ele prevê alta até junho, quando a desocupação deve atingir 11%, voltando aos dois dígitos: ¿ Isso, se tudo acontecer como o esperado. Na média do ano, a taxa deve ficar entre 9,5% e 10%.

Para Camargo, até a esperada queda do desemprego no segundo semestre está ameaçada. A suspensão da cobrança do IPI sobre eletrodomésticos e carros pode reduzir as vendas no segundo semestre: ¿ Estamos antecipando o consumo futuro. A menos que a economia cresça fortemente no segundo semestre, há um risco pela frente.

O diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia, diz que o desemprego maior já era esperado, mas chama a atenção para o bom comportamento da renda.

¿ Ficou praticamente estável frente a fevereiro e teve alta expressiva de 5% ante março de 2008. Novamente, por efeito do salário mínimo.

Alexandre Maia, economista-chefe da GAP Asset, vê uma ¿deterioração gradual¿ do quadro. E também cita a massa salarial (soma dos salários) ¿ que subiu 5,4% em fevereiro (último dado disponível) ¿ como foco de resistência no mercado de trabalho.

¿ É uma trajetória de piora inegável, mas gradual.

São Paulo é a região metropolitana onde a crise tem se mostrado mais aguda: são mais de um milhão de desempregados, o maior número desde maio de 2007.

¿ O resultado é sintomático, São Paulo é o coração da economia e onde a situação está pior, por depender mais do emprego formal que Recife ou Salvador, por exemplo ¿ diz Saboia.

Sérgio Mendonça, supervisor das pesquisas de emprego do Dieese, diz que ainda não acendeu o sinal vermelho para o emprego, já que a taxa não está maior que em 2007.

¿ A maior parte do ajuste da indústria já foi feita. A tendência é haver mais emprego informal. Em São Paulo, o ajuste foi maior.

Metade das vagas formais cortadas nos últimos seis meses aconteceu em São Paulo.

E esse quadro apareceu na pesquisa do IBGE. A indústria teve a maior taxa de desemprego entre as atividades, alcançando 6,1% em março, o dobro da registrada em outubro, de 3,1%. Os jovens também estão sofrendo mais. O desemprego, que foi de 18,9% em fevereiro, chegou a 21,1% para os que têm entre 15 e 24 anos.

¿ Tradicionalmente, essa faixa etária encontra dificuldade para se empregar, diante da falta de experiência.

Num momento de crise, sofre mais ainda. Entre os que têm entre 8 e 10 anos de estudo, a situação também piorou ¿ diz Azeredo, do IBGE.

Na esteira da alta da desocupação, o emprego com carteira perdeu fôlego.

Segundo Azeredo, o crescimento das vagas formais, que estava próximo a 4%, foi de apenas 2,5% em março na comparação anual.