Título: Brics condicionam ajuda ao Fundo
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 25/04/2009, Economia, p. 23

Para liberar dinheiro, Brasil, Rússia, Índia e China exigem mais peso no FMI WASHINGTON. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que Brasil, Rússia, Índia e China ¿ o grupo dos Brics, que reúne as principais nações emergentes ¿ decidiram vincular o aporte de recursos extraordinários ao Fundo Monetário Internacional (FMI) à reforma nas cotas que darão novos pesos aos países na estrutura de poder do Fundo. O aporte será usado na ajuda a nações em dificuldades por causa da crise. Os Brics querem também que os recursos injetados pelo grupo sejam aplicados, preferencialmente, nas regiões onde estão os países, ou seja, Ásia e América Latina.

O aporte de recursos ao FMI foi acertado na reunião do G-20 (grupo de países ricos e os principais emergentes) no início do mês, e os países-membros esperam que os novos recursos, a serem injetados a curto prazo, totalizem cerca de US$ 1 trilhão.

O processo não estava ligado ¿ ao menos até agora ¿ à decisão do G-20 de alterar o sistema de cotas que dará novo peso aos países emergentes dentro da estrutura decisória da instituição.

Os ministros da Fazenda dos Brics se reuniram ontem para fechar uma estratégia conjunta de ação, de modo que o aporte de recursos não retarde as mudanças no sistema de cotas.

¿ Estamos dispostos a fazer o aporte de recursos mas nos preocupamos com a reforma no sistema de cotas do Fundo.

¿ disse Mantega. ¿ Defendemos que estejamos mais bem representados na estrutura da instituição e tememos que o aporte de recursos possa postergar as reformas. Este aporte não pode adiar a mudança nas cotas e deixei isso claro ao diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn.

Os Brics, diz Mantega, não concordaram com a sugestão de técnicos do FMI de que o aporte seja feito via compra de títulos diferentes, um de curto e outro de longo prazo de resgate: ¿ Defendemos que o aporte se dê por meio da compra de um título a ser emitido pelo FMI, mas queremos que esse papel possa ser comercializado no mercado livremente, sem prazos. Além disso, queremos usar o título na composição das reservas internacionais e achamos que ele tem que ser remunerado a taxas um pouco acima dos títulos do Tesouro americano.

O presidente do G-24 (de países emergentes), Adib Mayaleh, defendeu a proposta da China de que se reduza o peso do dólar, com a expansão do uso dos Direitos Especiais de Depósito (SDR, da sigla em inglês), a unidade monetária do FMI: ¿ É uma proposta que merece ser estudada a fundo. (Gilberto Scofield Jr., correspondente, com agências internacionais)