Título: Plano salva-vidas para a GM
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Fonte: O Globo, 28/04/2009, Economia, p. 19

Proposta prevê mais US$ 11 bi do governo dos EUA, corte de 23 mil e controle estatal

WASHINGTON e NOVA YORK

Em sua última tentativa de evitar a concordata, a General Motors (GM) apresentou ontem ao governo americano uma nova versão do seu plano de viabilidade. Nele, a montadora pede mais US$ 11,6 bilhões de ajuda estatal ¿ além dos US$ 15,4 bilhões já injetados desde o fim de 2008 ¿, anuncia o corte de 23 mil funcionários, a extinção de marcas e o fechamento de 16 fábricas nos EUA, além de propor que Tesouro, sindicatos e demais credores troquem parte da sua dívida por ações da empresa. Na prática, o governo dos EUA assumiria uma fatia majoritária da companhia. Juntos, Tesouro e funcionários ficariam com até 89% do capital societário da GM.

O plano dividiu opiniões. Bem recebido no mercado, impulsionou as ações da montadora, que fecharam em alta de 20,71% na Bolsa de Nova York. A força-tarefa da Casa Branca criada para avaliar a saúde financeira das montadoras também saudou a proposta. Em comunicado, disse que ¿a troca de títulos (conversão de dívida em ações) como consta do documento representa importante passo para os esforços da GM de reestruturar a companhia¿. No entanto, um comitê de credores que representa fundos de investimentos, como Fidelity e John Hancock, considerou a oferta inadequada e favorável aos sindicatos. Em nota, o comitê disse ainda que o plano aproxima a montadora da concordata.

A polêmica está justamente nos termos propostos para a reestruturação da dívida.

O plano prevê a conversão, em ações ordinárias da companhia, de 50% do débito que a GM terá com o Tesouro americano até 1º de junho. Segundo a empresa, essa parcela equivaleria hoje a cerca de US$ 10 bilhões.

Metade das obrigações futuras com o fundo responsável pelo pagamento de aposentadorias e planos de saúde também seria trocada por ações. O fundo é administrado pelo United Auto Workers, o sindicato dos metalúrgicos local.

Quanto aos demais credores ¿ que detêm US$ 27 bilhões em bônus da dívida da GM ¿, cada US$ 1 mil em débito seria trocado por 225 ações. Eles ficariam com 10% da empresa, restando 1% para os atuais acionistas da GM. Hoje, o controle é pulverizado em bolsa. O plano reduziria a dívida em US$ 44 bilhões, para estimados US$ 23 bilhões.

¿ A oferta não tem atrativos. Os credores não estão interessados em 10%, eles querem o controle ¿ disse o analista de investimentos Mirko Mikelic à Bloomberg News.

Como a proposta é condicionada à aprovação de 90% dos credores, está nas mãos deles o futuro da montadora.

O prazo para adesão à oferta vai até 26 de maio. A margem de manobra para negociação, porém, é pequena. A própria GM afirmou que, se o plano for rejeitado, ¿a empresa espera encontrar alívio sob da Lei de Falências americana¿. Em outras palavras, a montadora pedirá concordata. O prazo do governo dos EUA para que a empresa se mostre viável termina em 1ode junho.

Executivo evita falar em estatização

O diretor-executivo da GM, Fritz Henderson, procurou afastar a hipótese de estatização: ¿ O Tesouro não demostrou qualquer interesse em gerir a companhia.

Eles querem ter certeza de que a empresa seja administrada para os acionistas ¿ afirmou ao jornal britânico ¿Financial Times¿.

O plano prevê ainda fechamento de 16 fábricas até 2012 (sendo 13 até 2010) e corte de mais de um terço dos empregados horistas no país, de 61 mil para 38 mil em 2011. Com as medidas, o custo estrutural da empresa nos EUA cairá 25% até 2010, para US$ 23,2 bilhões, ou US$ 1,8 bilhão a menos que o previsto no plano original, rejeitado pelo Tesouro. A marca Pontiac será extinta, e Chevrolet, Cadillac, Buick e GMC serão o novo foco da empresa.