Título: Venda e preço de suínos devem cair
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 29/04/2009, Economia, p. 25

Para analistas, porém, exportador brasileiro pode ganhar espaço de EUA e México.

RIO e NOVA YORK. A ameaça de uma pandemia de gripe suína já afeta a cadeia produtiva do setor. Nos últimos dois dias, houve queda nos preços internacionais de soja e milho, insumos usados na ração animal e que respondem por até 80% do custo de produção da carne suína. Analistas acreditam que, num primeiro momento, será inevitável uma redução nos preços e no volume de vendas de carne suína. Mas há quem aposte que os produtores brasileiros, dependendo do cenário, poderão até sair ganhando, pois a carne nacional é considerada de qualidade, e o Brasil teria a oportunidade de conquistar, no mercado internacional, o espaço hoje ocupado por americanos e mexicanos.

De qualquer maneira, o impacto será apenas setorial. Apesar de o Brasil ser o quarto maior exportador de carne suína do mundo - atrás de União Europeia, EUA e Canadá - as vendas desse produto representam apenas 0,90% das receitas totais das exportações brasileiras. Nos 12 meses encerrados em março, o Brasil exportou 553 mil toneladas de carne suína, obtendo US$1,49 milhão.

- O clima é de apreensão. As empresas estão aguardando para fechar negócios. O importante é que nenhum país retirou o Brasil da lista (de fornecedores) - afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto.

Preço da soja caiu 4,93% na Bolsa de Chicago

No mercado financeiro, a gripe suína já afeta os negócios. Nos últimos dois dias, a cotação da soja na Bolsa de Chicago recuou 4,93% e a do milho, 0,58%. Mas isso ainda não se refletiu nos preços da carne suína negociada no Brasil.

Hoje, 20% da produção nacional de suínos são exportados. E o Brasil pode até ganhar espaço no mercado por causa da gripe suína, diz Mateus Almeida, pesquisador do Cepea/USP. Ele lembra que alguns países suspenderam as compras de EUA e México, este último sexto maior exportador mundial.

- Tudo vai depender, é claro, de como será o agravamento dessa crise. Se fizermos um paralelo com a gripe aviária, depois de um período de pânico, as exportações de frango de países asiáticos foram suspensas, e o Brasil ocupou esse espaço. Nós poderíamos, agora, vender carne suína para países que antes compravam do México e dos EUA.

Almeida destaca que o Brasil tem a seu favor condições sanitárias consideradas de excelente qualidade. O sistema aqui é de produtor rural integrado, no qual as granjas, normalmente de propriedade familiar, fornecem exclusivamente para as grandes empresas nacionais, que prestam assistência técnica e fazem inspeções rigorosas, explica Almeida. Os principais grupos são Sadia, Perdigão e Aurora.

Especialista americano critica condições sanitárias

Mas o jornalista americano David Kirby, especialista em coberturas científicas e que está escrevendo um livro sobre a produção industrial de alimentos, faz um alerta: as condições de produção de carne suína encontradas no México são similares a de outros países emergentes, e isso inclui o Brasil.

- As grandes multinacionais da indústria de alimentação estão migrando para países onde os custos são mais baixos, como Brasil, México e Polônia, e trabalham nesses locais com pequenos produtores em fazendas onde os porcos são confinados em locais de pouca higiene.