Título: Falência da rede estadual atinge ex-referências
Autor: Berta, Ruben
Fonte: O Globo, 30/04/2009, O País, p. 5

Centenário, Instituto Superior de Educação aparece na 247a- posição do ranking do Enem no Estado do Rio

Ruben Berta

A união entre tradição e bom desempenho não pode ser considerada uma regra entre as escolas públicas do Rio que participaram do Enem. Se há colégios como o Pedro II, que resistem entre os primeiros, instituições centenárias, como o Instituto de Educação, agora chamado Instituto Superior de Educação (Iserj), não passaram incólumes pela decadência da rede estadual. A unidade aparece apenas na 247ª posição entre as escolas do estado. O Liceu Nilo Peçanha, de Niterói, ficou na 593aposição, enquanto o Colégio Estadual Andre Maurois, no Leblon, foi o 730º colocado.

Para o doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) Gaudêncio Frigotto, o ensino público vem sofrendo um processo histórico de desgaste, que é ainda mais acentuado no Rio. Ele destaca a falta de continuidade de políticas como um dos fatores preponderantes para o fracasso.

Na última década, por exemplo, o estado teve uma média de um secretário de Educação por ano.

¿ O Rio foi se caracterizando como uma espécie de laboratório do experimentalismo na área de educação. Não houve políticas de Estado, cada hora foi apresentado um projeto.

Uma hora foram os Cieps, por exemplo, depois tudo muda.

Ficamos num zigue-zague ¿ analisa Frigotto.

A professora do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da UFRJ Libânia Nacif Xavier destaca que o próprio crescimento da rede de ensino, ainda na época em que o Rio de Janeiro era a capital do país, foi provocando a queda na qualidade: ¿ Nas décadas de 1930, 1940, as crianças que frequentavam a escola pública tinham uma boa condição social, mas a maior parte da população estava excluída.

Depois, começa a haver a necessidade da escola de massa.

Há vagas, mas a qualidade fica comprometida. Surge a falta de condições de trabalho, que leva ao quadro atual.

Iserj teve até quebra-quebra em setembro do ano passado O tradicional Iserj, por exemplo, viveu no ano passado uma das cenas mais tristes de seus mais de 120 anos de história. O templo das normalistas foi palco, em setembro, de um quebra-quebra envolvendo alunos, professores e funcionários. A causa do tumulto foram discussões que envolviam o futuro da instituição e sua incorporação aos quadros da Uerj.

Doutora em Educação pela UFRJ e professora titular da Fundação Getul i o Va rg a s (FGV), a pedagoga Sylvia Vergara relembra com saudade do tempo em que a escola pública era referência para a formação de bons profissionais: ¿ Conheço muitas pessoas que fizeram todo o seu curso em escolas públicas e são professores doutores hoje em dia, mas a escola foi morrendo. O Brasil ganhou em quantidade, mas não há suporte.