Título: Petistas tentam retomar ministério de Múcio
Autor: Damé, Luiza; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 04/05/2009, O País, p. 4

Executiva e senadores querem um dos seus, como Chinaglia, na articulação política do governo

BRASÍLIA. Setores do PT voltaram a pressionar pela retomada do cargo do ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro (PTB-PE), responsável pela articulação política do governo. O movimento se concentra na Executiva e na bancada de senadores petistas. A vaga de Múcio - que comanda a pasta há um ano e meio - seria usada para acomodar petistas ilustres hoje sem função de destaque. Um desses nomes é o do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), ex-presidente da Câmara.

Desde que a articulação política foi desmembrada da Casa Civil, os petistas insistem que o cargo deveria ser do partido. Múcio substituiu Walfrido dos Mares Guia (PTB-MG), cujo antecessor foi Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Mas o incômodo é maior com Múcio, que, ao entrar no governo, enfrentou a derrota na votação da CPMF.

Os petistas também atribuem ao ministro petebista parte da responsabilidade pela derrota do senador Tião Viana (PT-AC) na disputa pela presidência do Senado contra José Sarney (PMDB-AP) - o PTB foi um dos primeiros a aderir à candidatura de Sarney.

O desconforto com Múcio foi verbalizado na última quarta-feira pelo chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho. Abordado por jornalistas ao deixar o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), onde o presidente Lula despacha provisoriamente, Gilberto, normalmente discreto, comentou que Múcio "encheu o saco" a tarde inteira para falar com o presidente.

"Estou no cargo há um ano e seis meses. É um feito"

Múcio - que durante a reforma do Planalto está despachando no anexo do Itamaraty - foi para o CCBB, mas não se encontrou com Lula, que saiu pouco depois das 20h, para se reunir, no Palácio da Alvorada, com os presidentes da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Múcio disse ao GLOBO que precisava falar com Lula sobre nomeações da Infraero e sobre a votação, na Câmara, do projeto de parcelamento das dívidas dos municípios com o INSS. Segundo o ministro, ele precisou incomodar o chefe de gabinete, já que faz intermediação dos acordos, mas não pode resolver questões técnicas.

- Estou no cargo há um ano e seis meses. É um feito. Estou superconfortável, me dou bem com todos. Não sei com quem não me dou bem, do PT ao DEM. Cansa, mas gosto do que faço.

Os petistas têm outro embate com o petebista. Múcio quer ser candidato a uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). Mas o PT prefere a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, que faz a articulação do governo com o órgão.

O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), nega o mal-estar com Múcio.

- Posso assegurar que a maioria dos deputados do partido apoia Múcio. Faço parte dos amigos do ministro.