Título: Piauí tem 30 mil desabrigados pelas chuvas
Autor: Ribeiro, Efrém
Fonte: O Globo, 04/05/2009, O País, p. 5

Cidades de Maranhão, Ceará e Bahia estão em situação de emergência; trens entre Teresina e Fortaleza são parados

TERESINA, SÃO LUÍS E FORTALEZA. Pelo menos 30 mil pessoas estão desabrigadas em 30 municípios do Piauí em decorrência das chuvas dos últimos dias. Cinco cidades já decretaram estado de calamidade pública. Em Teresina, os rios Parnaíba e Poty transbordaram. O prefeito Silvio Mendes (PSDB) decretou estado de alerta máximo diante do aumento do nível da água do Rio Poty, o maior desde 2004. O governador Wellington Dias anunciou ontem que homens do Exército vão atuar a partir de hoje, especialmente nas cidades mais afetadas: Barra, Esperantina, Caxingó e Pirapuruca.

As chuvas também provocaram transtornos no Maranhão, no Ceará e na Bahia. Pelo menos 39 municípios maranhenses tiveram problemas por causa das enchentes. Há 29 cidades em situação de emergência e uma em estado de calamidade pública: Monção, a 240km de São Luís. Na capital maranhense, parte de um casarão no Centro desabou ontem. É o terceiro prédio atingido neste ano. Outros 35 estão ameaçados.

No Ceará, mais de cinco mil pessoas estão sem casa

São Luís teve o abril mais chuvoso dos últimos 24 anos. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), foram 707,6 milímetros de chuva, quando a média do período é de 472,6 milímetros. Pelo menos 85 mil pessoas foram atingidas em outros municípios e seis rodovias federais estão com o tráfego prejudicado.

No Ceará, 52 cidades sofrem com as enchentes. Quatro pessoas morreram e, segundo a Defesa Civil, até sexta-feira passada havia 5.892 desabrigados.

No Piauí, as lavouras de arroz, feijão e milho dos municípios foram destruídas. Segundo o secretário de Defesa Civil do estado, Fernando Monteiro, há famílias abrigadas em ginásios e escolas.

O lavrador Luiz Francisco, de Esperantina, contou que a enchente arrastou móveis e eletrodomésticos:

- Na enxurrada desce muito lixo e as famílias perdem casas, móveis e eletrodomésticos, causando grande angústia.

Em Cantinho do Sul, na zona rural de Teresina, onde casas ficaram ilhadas, o transporte é feito com canoas e cavalos. Os moradores temem mais perdas, porque as águas das lagoas e do Rio Poty continuam subindo.

Ontem, a Companhia Transnordestina anunciou o bloqueio do tráfego de trens entre Teresina e Fortaleza (CE). O abastecimento de combustíveis em Teresina e cidades do interior pode ser comprometido, já que o trem é o principal transporte para a distribuição de gasolina no estado. Em Miguel Alves, a 110km da capital, 146 famílias estão desabrigadas, e os moradores estão usando canoas para sair de casa.

O agricultor Benedito Gomes Borges teve sua residência no povoado Alegria, zona rural de Teresina, invadida pelas águas, e perdeu a lavoura. Ele tentou salvar pelo menos as galinhas que estavam no teto de uma casa de palha, para que não fossem arrastadas pela correnteza:

- A casa era minha, mas não é mais, é do rio.

A lavadeira Maria das Graças de Macedo, de 48 anos, amanheceu ontem chorando porque sua casa na Nova Brasília, Zona Norte de Teresina, caiu:

- Perdi tudo. Minhas roupas não prestam mais. A cama é de metal, mas ficou debaixo dos escombros.

* Com o G1