Título: Pré-sal, festa e puxão de orelha
Autor: Passos, José Meirelles; Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 02/05/2009, Economia, p. 17

Em evento político da 1ª extração de Tupi, Lula censura estatal: "Petrobras é que é do Brasil, não o Brasil que é dela".

O início da produção de petróleo na área de Tupi, no pré-sal da Bacia de Santos, ontem no Rio, foi definido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um marco histórico de proporções fora do comum, equivalente "à segunda independência do Brasil". Ao som de "Marcha da Petrobras", composta por Luiz Gonzaga em 1956, e embalada pelo refrão de "Eu acredito é na rapaziada", de Gonzaguinha, a solenidade realizada no Dia do Trabalho foi marcada por um claro tom político, para uma plateia de mil convidados, entre artistas, atletas, petroleiros, sindicalistas, empresários e ministros. Não faltaram momentos de emoção, muitos risos provocados por Lula - que não escondia sua alegria - e até um "pito" na Petrobras, a quem o presidente mandou um recado: a empresa deve ter sempre em mente que ela pertence ao Brasil, não o Brasil a ela.

- Eu quero dizer para vocês, companheiros da direção da Petrobras, o meu orgulho de ter vocês como parceiros. Eu poderia falar "orgulho de ter vocês como subordinados". Mas (dirigindo-se à platéia), eles não obedecem. A gente define as coisas com eles e aí passam três meses e, acontece? Não. A máquina é poderosa, mas aos poucos a gente vai compartilhando o enquadramento e fazendo com que a Petrobras perceba que ela é que é do Brasil, e não o Brasil que é dela. Ela vai percebendo aos poucos que o Brasil é maior do que ela, é mais importante e que ela só existe porque antes dela existia o Brasil.

Apesar do clima festivo, Lula cobrou mais agilidade de seus ministros para concluir o novo marco regulatório para a exploração do pré-sal no país:

- Estamos numa fase quase final. O ministro Lobão, a ministra Dilma, o ministro Mantega e outras dezenas de companheiros têm a responsabilidade, e não têm muito tempo mais, de me apresentar um novo marco regulatório para a indústria do petróleo no nosso país. E isso é urgente.

A primeira extração de petróleo, filmada poucas horas antes, foi exibida num telão. Uma amostra, contida num pequeno barril transparente, chegou ao local do evento, na Marina da Glória, como uma de tocha olímpica: passada de mãos em mãos por diferentes representantes da sociedade até chegar ao presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. Chorando, Gabrielli a entregou a Lula. O presidente, por sua vez, ergueu o barril como se fosse uma taça da Copa do Mundo.

Segundo Lula, o início da produção em Tupi vai permitir que o Brasil discuta com "paixão e racionalidade" o que quer com esse petróleo, como será a participação dos sócios na exploração e qual será a fatia para o povo brasileiro. Aos investidores privados, também mandou um recado:

- As pessoas sabem que não é fácil fazer os chamados "contratos fáceis" que são feitos no mundo. Não tem um país no mundo que encontrou grandes reservas de petróleo e que não tenha mudado a regulamentação.

Mais cedo, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, defendeu a criação de uma nova estatal que seria a dona das reservas do pré-sal. Segundo ele, a empresa seria 100% do Tesouro Nacional, teria poucos funcionários e não entraria com nenhum investimento na exploração e produção dos campos. O ministro ressaltou que as discussões não foram concluídas, mas disse que há chances de a ideia ser aprovada.

No evento, Lula lamentou não ter podido fazer a viagem até o navio plataforma que começou a produzir o petróleo em Tupi na fase de testes, como estava programado inicialmente.

- É um momento histórico para o país. É uma nova era.