Título: Lula descarta entrada do Brasil na Opep e diz que cartel não tem poder
Autor: Rangel, Juliana; Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 02/05/2009, Economia, p. 18

A EXPLORAÇÃO DO ÓLEO: Na inauguração, novas farpas contra os países ricos

Segundo o presidente, mercado futuro é que dita os preços do petróleo.

Ao falar sobre as descobertas e a exploração da camada de petróleo no pré-sal, que poderão representar um acréscimo entre cinco bilhões e oito bilhões de barris às reservas provadas do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que não tem interesse em ingressar na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

- Não tenho nenhuma paixão por entrar na Opep. Parece que a Opep não tem o poder que a gente pensa que tem - afirmou o presidente.

Ele observou que, sempre que o preço aumenta ou diminui, a Opep diz que não é a culpada e não pode fazer nada.

- Então o que é que ela pode? O mercado futuro decide mais que a Opep. É verdade, porque eu perguntava para os companheiros produtores de petróleo: por que é que o petróleo está a US$150 o barril? Por causa do consumo na China, companheiro - disse, fazendo uma segunda voz.

Agora, segundo Lula, a China continua comprando matéria-prima para estocar, e o petróleo chegou a cair a US$40.

- Você pergunta e já não é mais a China. Quem é então? Foi a especulação no mercado futuro com o subprime que levou o mundo a esta crise que nós estamos vivendo. Ou seja, a lição que tiramos disso é que a riqueza do mundo tem que estar concomitantemente ligada à produção de alguma coisa. E não na transferência de papéis via computador, que não gera emprego, não gera um parafuso, não gera um papel, não gera absolutamente nada - disse, arrancando aplausos da plateia.

Lula critica neoliberais, ao defender a Petrobras

O presidente aproveitou o gancho da Petrobras para criticar o liberalismo, dizendo que os editoriais dos jornais da década de 50 criticaram o então presidente Getúlio Vargas sobre a criação da empresa.

- É a mesma coisa que a gente está vendo no discurso dos defensores do Consenso de Washington - comparou, referindo-se à receita neoliberal estabelecida no fim dos anos 80 por instituições com sede na capital americana, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. - É aquele discurso meio fajuto que fala que o Estado não vale nada, que o trabalhador e funcionário público ganham demais e são marajás. É aquele discurso que fala que pagar salário de trabalhador é aumentar o gasto. É aquele discurso que fala que o mercado resolve tudo.

Em seguida, Lula disse que "Deus é onipotente" e que a grande lição da economia do século XXI foi dada não pelo fracasso de algum país emergente, mas "pelos pós-graduados da economia mundial que sabiam tudo quando a crise era na Bolívia, no Brasil e na Rússia, mas não sabem nada quando a crise é no quintal deles".

Ao falar sobre a crise mundial, o presidente admitiu que é mais fácil opinar de fora da situação:

- Você já reparou que quando acontece na casa da gente, a gente não sabe o que fazer? Hoje, quando eu converso com o presidente Obama, com a Angela Merkel, (chanceler) da Alemanha, com o Gordon Brown (primeiro-ministro da Grã-Bretanha, com o (Nicolas) Sarkozy (presidente da França), eu percebo que eles estão em uma situação muito difícil. Eles não sabem muito o que fazer porque também ainda não sabemos o tamanho dessa crise e se ela chegou ao fundo do poço.