Título: Ministro da Saúde afirma que é inevitável a chegada do vírus da gripe ao Brasil
Autor: Berta, Ruben; Costa, Jacqueline
Fonte: O Globo, 02/05/2009, O Mundo, p. 24

Número de casos suspeitos no país sobe para 7, e outros 41 pacientes estão sendo monitorados em 13 estados. Passageiros continuam a se queixar da falta de informação no desembarque.

RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou ontem que a chegada do vírus da gripe suína ao Brasil é inevitável. Temporão ressaltou, no entanto, que não há motivos para pânico e que o país está preparado para combater a doença. Ele pretende convocar, na semana que vem, uma reunião com representantes de países da América do Sul para traçar uma estratégia conjunta de ação:

- O plano de contingência está pronto, estruturado e em funcionamento. Vamos ver como essa pandemia se desenvolve no mundo. Ninguém até agora sabe o que irá acontecer, mas o momento é de tranquilidade, de confiar nas autoridades, no governo.

Apesar de afirmar que a chegada é inevitável, Temporão fez questão de ressaltar que o vírus ainda não está no país.

O ministro criticou a demora da Organização Mundial de Saúde (OMS) em comunicar a disseminação da doença:

--- A OMS demorou a avisar o mundo. Isso só foi realizado na madrugada de sábado.

Já são sete casos suspeitos da nova gripe no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. São três em Minas Gerais, um no Rio, dois em São Paulo e um no Espírito Santo. De acordo com o último relatório, divulgado ontem no final da tarde, ainda estão sendo monitorados 41 casos em 13 estados. Desde o início da divulgação do boletim, dia 22, 17 casos que estavam sendo avaliados foram descartados em 6 estados: Amazonas (2); Mato Grosso do Sul (1); Minas Gerais (1); Pará (1); Paraná (4); Rio (7) e Santa Catarina (1).

A Secretaria Estadual de Saúde do Rio liberou ontem a médica de Volta Redonda que estava em monitoramento por apresentar sintomas da gripe, depois de voltar de Cancún, no México. O resultado dos exames descartou a possibilidade de gripe suína.

São considerados suspeitos casos de pessoas que estiveram nos locais afetados ou em contato com pessoas que estiveram nessas regiões, e que apresentem febre alta repentina, tosse, dores de cabeça, musculares e nas articulações.

Governo tem estoque para fabricar 9 milhões de doses

O governo brasileiro tem estocados nove milhões de doses do medicamento contra a Influenza A (H1N1), nome científico da doença, utilizado pela OMS. Por questões estratégicas, o medicamento fosfato de oseltamivir está guardado em local de segurança nacional.

Segundo o ministério, o insumo básico do remédio fica em tonéis e pode ser transformado em cápsulas pela rede de laboratórios oficiais do Brasil (Farmanguinhos, da Marinha e do Exército). O início da produção e a quantidade serão indicados pelo governo, de acordo com a necessidade. O governo informou ainda que adquiriu do laboratório produtor (Roche) 6.250 doses para adultos e outras 6.250 para crianças.

Os secretários de Saúde do município, Hans Dohmann, e do Estado do Rio, Sérgio Côrtes, estiveram na manhã de ontem no Aeroporto Internacional Tom Jobim. Eles vistoriaram as salas montadas para atendimento de passageiros que chegam com sintomas de gripe.

Aviões que chegam do exterior estão sendo fiscalizados por funcionários da Anvisa, que contam com o reforço de 14 agentes de saúde do município e do estado. Funcionários que trabalham na limpeza dos aviões estão usando máscaras e luvas.

Entre os passageiros, medo de contaminação persiste

No saguão de desembarque de voos internacionais, o medo de contrair a doença continua evidente. Passageiros já desembarcam com máscaras. Grávida de três meses, a ourives Ivana Peixoto chegou de Buenos Aires reclamando da falta de informação.

- Estou usando máscara por medo da propagação. Nos aeroportos, não recebemos informações suficientes - disse Ivana, acompanhada de mais três adultos e uma criança que também usavam máscaras.

Em São Paulo, passageiros que chegaram ontem do México queixaram-se da falta de controle sanitário no embarque na Cidade do México e no desembarque no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos.

- Ao desembarcar no Brasil, não há nenhum tipo de controle ou inspeção. No México, só nos pedem para respondermos um questionário que lista os sintomas da gripe suína. Mesmo tendo febre ou dor de cabeça, a pessoa pode mentir para conseguir embarcar - disse a estudante de nutrição Agatha Álvares Wanderley, de 21 anos, que voltava do México após um intercâmbio.

COLABOROU Márcia Abos