Título: Presidente andarilho bate recorde de viagens
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 03/05/2009, O País, p. 10

De janeiro a abril, Lula completou 48 dias viajando, três a mais do que no mesmo período de 2008, e foi a nove países

BRASÍLIA. O Aerolula continua ganhando alturas e acumulando milhagens. Levantamento realizado com base em informações disponíveis no site da Secretaria de Imprensa da Presidência demonstram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém uma rotina de pousos e decolagens que se assemelha à de muitas tripulações de voos comerciais.

Dificilmente o presidente fica uma semana sem sair de Brasília. De janeiro até 30 de abril, Lula se manteve fora do gabinete presidencial por 48 dias ¿ mais da metade dos 81 dias úteis de trabalho. E o programa de viagens continua, com agenda cheia e diversa.

Até o fim de junho, transcorridos 122 dias úteis de trabalho, a previsão é a de que o presidente terá passado 73 desses dias em viagem ¿ quase 60% do tempo serão dedicados a percorrer outros países e estados brasileiros, levando a tiracolo, na maioria das vezes, a chefe da Casa Civil e sua pré-candidata à Presidência, Dilma Rousseff.

Em maio e junho, viagens a pelo menos dez países No ano passado, de janeiro a abril, Lula ficou 45 dias distante de Brasília, três dias a menos que no mesmo período este ano. Na ocasião, percorreu 33 cidades e foi a sete países.

Neste ano, em igual período, já foram 37 municípios brasileiros e nove países.

Mas uma prévia da agenda presidencial até junho adianta que Lula intensificará sua maratona pelo exterior. Em maio serão dez dias dedicados a visitar países como África do Sul, China, Arábia Saudita e Turquia, além de pelo menos cinco viagens nacionais.

Em junho, há possibilidade de Lula ir a seis países: El Salvador, Guatemala, Costa Rica, Chile, Suíça e Rússia.

As visitas de Lula ao exterior, neste ano, têm sido marcadas por compromissos que, invariavelmente, resumem-se a encontros bilaterais. Até abril, Lula esteve com os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, da Venezuela, Hugo Chávez, e da Argentina, Cristina Kirchner. Ele também não perde a oportunidade de participar de cúpulas, como o G-20, em Londres, ou o a Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, e a dos chamados Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), prevista para junho.

Lula também deverá ir a duas posses de presidentes: o da África do Sul, Jacob Zuma, em 9 de maio, e o de El Salvador, Maurício Funes, casado com uma militante petista.

Lula está convencido da importância do Brasil no cenário internacional e, sempre que pode, faz questão de comparecer a eventos multilaterais.

Além disso, como costumam ressaltar o chanceler Celso Amorim e o secretário para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, o presidente quer reforçar a presença brasileira na África e aumentar a participação no mundo árabe.

Suas viagens anuais a países africanos já produziram resultados comerciais considerados importantes. De 2002 a 2008, as exportações brasileiras para a África cresceram 330,3%, passando de US$ 2,363 bilhões para US$ 10,169 bilhões, segundo dados oficiais.

Internamente, a preferência de Lula desde o ano passado é visitar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), acompanhado por Dilma, chamada por ele de ¿a mãe¿ do projeto. Mas ele também gosta de ir a aberturas de feiras e inaugurações de fábricas.

Lula defende suas viagens.

Ao andar pelo país, argumenta, está em constante contato com a realidade brasileira. Indo ao exterior, está divulgando o Brasil e tentando aumentar a importância do país no cenário mundial.

Roraima, único estado que Lula ainda não visitou No fim do ano passado, durante café da manhã com jornalistas que cobrem a rotina do Palácio do Planalto ¿ que está em obras, e de onde Lula se mudou momentaneamente ¿, o presidente adiantou que pretendia passar o ano viajando, sobretudo para inaugurar escolas técnicas, uma de suas fixações.

Apesar de tantas andanças pelo país, Lula continua distante de Roraima. Foi o único estado no qual não esteve desde que foi eleito presidente pela primeira vez, em 2003. Há uma promessa do presidente ao líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que neste ano ele irá ao estado.

Assessores que viajam frequentemente com o presidente afirmam que, mesmo voando, Lula não para de trabalhar.

É comum, dizem esses auxiliares, ministros levarem pastas para despachar com Lula. Da cabine presidencial, ele os chama e fica questionando, cobrando ações ou falando de política, contam os assessores.

Como ainda mantém um certo desconforto com voos longos, apesar de tanta milhagem, dificilmente o presidente dorme nas viagens. Prefere se manter acordado, vendo filmes ou conversando.