Título: Após onda de demissões na indústria, especialistas acham que o pior passou
Autor: D'Ercole, Ronaldo; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 03/05/2009, Economia, p. 34

Algumas empresas cancelam acordos de redução de jornada e salários

SÃO PAULO e RIO. Primeiro setor a sentir o baque da crise financeira global no emprego, a indústria brasileira passou por um ajuste que custou as vagas de mais de meio milhão de pessoas, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Pela intensidade e pela abrangência das demissões, especialistas e alguns dirigentes sindicais consideram que a fase mais dramática do ajuste passou.

¿ Houve um ajuste muito grande no emprego industrial, por isso, alguns setores podem precisar de acordos, e se tentará ao máximo evitar mais cortes ¿ diz Sérgio Mendonça, supervisor do Dieese.

Sondagem da Indústria de Transformação divulgada quintafeira pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que, se ainda não planejam contratar, os empresários do setor não pensam em demitir. E, com a recuperação das vendas de carros puxada pelo corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), algumas empresas estão cancelando acordos de redução de jornada e salários, para acelerar a produção.

Dos 27 acordos desse tipo fechados pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, cinco foram cancelados. Já o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista assinou 44 acordos, assegurando 13.400 empregos.

Em abril, oito empresas pediram para cancelá-los.

No Rio, onde de setembro a março o saldo de empregos ainda é positivo em 7.545, as negociações também tiveram papel importante. Na Peugeot Citroën, um acordo garantiu 700 empregos até março ¿ e 450 pessoas acabaram reaproveitadas.

Já o Sindicato dos Petroquímicos de Duque de Caxias registrou a perda de 171 vagas.

¿ Menos de 10% destas foram repostas até agora ¿ diz Salvador Alves de Oliveira, coordenador da entidade.

Diretora da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Luciana de Sá diz que, apesar de os números de março não estarem fechados, há sinais de recuperação em alguns setores. Caso de alimentos e bebidas, transportes (indústria naval) e químico.

Amazonas e Rio Grande do Sul, exportadores, sofrem No Paraná, onde os acordos preservaram quatro mil postos na cadeia automotiva, o sindicato já se prepara para negociar aumento real de salário este ano. Segundo Sérgio Butka, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba, espera-se um segundo semestre melhor.

No Amazonas, 27.200 vagas foram fechadas na indústria de eletroeletrônicos entre setembro e março, diz o presidente da CUT estadual, Valdemir Santana.

Ele afirma que o fim da importação de placas montadas de eletroeletrônicos geraria mais de 25 mil empregos.

A grande preocupação dos sindicatos, hoje, é com as empresas mais dependentes de exportações.

Caso da indústria de máquinas e equipamentos, que emprega 250 mil no país. No Rio Grande do Sul, que concentra os principais fabricantes do setor, o quadro é dramático. O segmento respondeu por boa parte das 17 mil demissões no estado.

¿ A indústria de máquinas e implementos agrícolas só não foi dizimada porque sobrevive da fabricação de pequenos tratores para agricultura familiar, que tem incentivo do governo ¿ diz Milton Viario, presidente da Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul