Título: Agricultores resistem à ordem de deixar Raposa
Autor: Marques, Ana
Fonte: O Globo, 01/05/2009, O País, p. 10

No último dia para desocupação da reserva, grupo protesta e arrozeiro destrói benfeitorias de sua fazenda

BOA VISTA. Terminou ontem o prazo para que os habitantes não índios que ainda ocupavam parte da terra indígena Raposa Serra do Sol deixassem a região de forma voluntária, em cumprimento à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Maior opositor da demarcação da reserva, o rizicultor Paulo César Quartiero demoliu casas e armazéns de suas fazendas, com a justificativa de que reutilizaria o material em novas construções. Uma perícia está sendo feita para verificar a extensão do dano e instaurar inquérito para avaliar a situação.

- Quartiero poderá ter que cobrir o prejuízo com parte da indenização que receberia por seus bens - disse o assessor da Polícia Federal no estado, Giovane Negreiros.

Ainda permanecem na área indígena 28 famílias

Apesar da atitude do arrozeiro, segundo a Polícia Federal, até o fim da tarde de ontem não havia sido registrado qualquer outro incidente na região da reserva.

- O papel da instituição é garantir a segurança das pessoas que estão saindo da Raposa Serra do Sol, no entanto, com o término do prazo para a desocupação espontânea, os que ficarem na reserva serão retirados à força, em cumprimento à decisão da Justiça.

O administrador da Funai, Gonçalo Teixeira, disse que, das 47 famílias que estavam na área indígena depois do decreto que homologou a reserva, 28 ainda permanecem na Raposa Serra do Sol.

- Se todos saíssem espontaneamente, seria muito melhor - disse Teixeira.

Ontem, em protesto contra a desocupação, rizicultores ocuparam as ruas de Pacaraima com tratores ornamentados com faixas pretas de luto. Entre os que ainda resistem está Tenório Esbell, que vive no município de Normandia. Ele disse em entrevista à TV Roraima, afiliada da Rede Globo, que não deixará a área. Afirmou ainda que, se necessário, morrerá defendendo a terra que herdou de seu pai e o direito de permanecer na região.

O governador de Roraima, José de Anchieta Júnior, disse ontem que não vai pedir mais tempo para que a população não indígena deixe a reserva Raposa Serra do Sol.

- Não pretendo, não vou discutir. Esse assunto já foi discutido exaustivamente. Aquilo vai se transformar num verdadeiro zoológico humano. Sem a menor condição de sobrevivência, sem contato com o branco, o que vamos ver lá serão animas humanos - disse ele.

De acordo com a Agência Brasil, não há resistência por parte das pessoas que não saíram da reserva ainda, mas falta logística para que elas cumpram a decisão.

- São pessoas que estão lá há quatro gerações e não têm para onde ir, nem como se loco - afirmou o governador.

(*) Especial para O GLOBO