Título: Inadimplência alcança 8,3%
Autor: Nunes, Vicente; Simão, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 27/03/2009, Economia, p. 11

A crise bateu pesado na capacidade dos consumidores de honrarem o pagamento de suas dívidas em dia. Segundo o Banco Central, o índice de calote atingiu, em fevereiro, 8,3%, o patamar mais alto desde maio de 2002, quando estava em 8,4%. Na avaliação do chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, além do aumento do desemprego, a inadimplência foi estimulada pela dificuldade que as pessoas tiveram para renegociar seus débitos, diante da escassez de crédito e do aumento da taxa de juros. Entre as empresas, a inadimplência saltou para 2,3%, taxa sem precedentes desde agosto de 2007. Os atrasos foram liderados pelas pequenas e médias firmas, alijadas do mercado diante da incapacidade dos bancos de menores de refinanciarem suas operações.

Para encarar o crescimento do calote, os bancos reforçaram de forma vigorosa as provisões para cobrir créditos de difícil recuperação. Somente em fevereiro, as provisões aumentaram 16,9% ou R$ 11,4 bilhões, para R$ 79,2 bilhões. O maior salto se deu nos créditos classificados como AA, nos quais não há necessidade de se reservar recursos para eventuais perdas: 1.524%, para R$ 3,4 bilhões. Nos créditos com classificação E e F, quase que perdidos, o aumento foi de 32,4% e 25%, respectivamente. ¿Sem dúvida, a percepção de risco aumentou depois da crise. Entre as pessoas físicas, a inadimplência cresceu 1,2 ponto percentual quando comparado fevereiro deste ano com o mesmo mês de 2008¿, disse Altamir.

Ele ressaltou, porém, que o reforço adicional das provisões decorreu, também, a autorização dada pelo BC para que o valor excedente reservado nos caixas para cobrir eventuais prejuízos não reduzisse a capacidade das instituições de emprestar. Ele destacou ainda que os bancos públicos, que ampliaram suas provisões em 10,4%, estão liderando processo de retomada do crédito. Em fevereiro de 2008, essas instituições respondiam por 34% do total de financiamentos. Agora, são donas de 37% do mercado. Já os bancos privados reduziram a participação de 44% para 42% e os estrangeiros, de 22% para 21%.

Microcrédito O Conselho Monetário Nacional aumentou os limites de empréstimos à população de baixa renda e a microempreendedores. Para as pessoas com contas simplificadas, o valor das operações subiu de R$ 1 mil para R$ 2 mil. Para as microempresas, o teto saltou de R$ 3 mil para R$ 5 mil. No caso do microcrédito produtivo orientado, o limite passou de R$ 10 mil para R$ 15 mil. Dados do BC indicam, porém, o desinteresse dos bancos por esse tipo de negócio. Dos R$ 2,420 bilhões que estão obrigados a emprestar, apenas R$ 1,4 bilhão foi liberado. (VN e ES)