Título: Juros voltam ao nível de antes da crise
Autor: Nunes, Vicente; Simão, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 27/03/2009, Economia, p. 11

Taxa média cobrada de pessoas físicas caiu de 52,7% para 51,5% nos primeiros dias de março. Apesar disso, o custo dos empréstimos continua muito alto

Depois de arrochar consumidores e empresas, elevando os juros além do razoável, os bancos começaram a devolver parte dos abusos. A taxa média cobrada de consumidores, que fechou fevereiro em 52,7% ao ano, caiu para 51,5% nos 11 primeiros dias úteis de março, retornando ao patamar de julho de 2008, quando o Brasil e o mundo ainda viviam momentos de euforia. Para as empresas, os juros anuais baixaram de 30,8% para 29,2% entre fevereiro e março, nível de setembro do ano passado, quando o banco americano Lehman Brothers quebrou e uma crise monumental abateu o planeta. ¿Voltamos ao patamar pré-crise, mas os juros continuam muito altos¿, afirmou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes.

Segundo ele, no caso específico das pessoas físicas, os bancos repassaram toda a queda que tiveram no custo de captação dos recursos para emprestar a seus clientes e ainda reduziram o spread, taxa na qual embutem seus lucros. De dezembro do ano passado até a primeira quinzena de março, o spread cobrado dos consumidores recuou 4,2 pontos percentuais, para 41 pontos, ainda o nível mais elevado desde outubro. Entre as empresas, que têm enfrentado maior dificuldades para pagar suas dívidas em dia, o spread diminuiu, na mesma comparação, apenas 0,5 ponto, para 17,7 pontos. Na avaliação do governo, tanto o spread precisa cair mais para que as operações de crédito retomem o fôlego, ajudando na retomada do crescimento econômico.

Ajuda Não foi à toa, portanto, que o Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu dar ontem, conforme antecipou o Correio, mais uma ajuda aos bancos de pequeno e médio portes para que aumentem a capacidade de emprestar recursos. O CMN permitiu que o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) amplie para até R$ 20 milhões a garantia aos depositantes. Ou seja, se um banco quebrar, os investidores terão a cobertura de, no máximo, esse valor. Nas contas do governo, com o seguro dado aos depósitos a prazo, haverá injeção de até R$ 40 bilhões no caixa das instituições menores. Se todos os bancos recorressem ao FGC, o que não é esperado, a medida teria um alcance de R$ 170 bilhões.

Para que os depósitos sejam garantidos pelo FGC, os investidores terão que aplicar em um título chamado de Recibo de Depósito Bancário (RDB) com prazo mínimo de seis meses e máximo de 60. Segundo o presidente do BC, Henrique Meirelles, a emissão de RDBs foi limitada a duas vezes o valor do patrimônio de referência do banco ou a soma dos saldos de depósito a prazo de 30 de junho de 2008. O teto, no entanto, foi fixado em R$ 5 bilhões. O seguro será bancado por meio de contribuições ao FGC. Até R$ 5 bilhões, o recolhimento será de 1%. A partir desse valor, o banco pagará um adicional punitivo de 10% do total da operação e será submetido a uma fiscalização mais severa por parte do BC.

Cheque especial A intenção do governo é beneficiar os pequenos, pois os grandes bancos já estão em condições de captar recursos a um custo menor. ¿Teremos oferta de crédito maior, o que significa que os bancos vão captar a taxas menores. A tendência é de que o spread caia¿, afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. ¿Estamos dando condições para que os bancos pequenos e médios voltem ao mercado¿, acrescentou. Essas instituições financiam, principalmente, médias e pequenas empresas, veículos usados, motos e crédito consignado.

Com a redução do spread e juros menores, já que as instituições ainda não repassaram à clientela boa parte do corte da taxa básica (Selic), que caiu de 13,75% para 11,25% de dezembro para março, o BC acredita que as operações de crédito tendem a crescer nos próximos meses. Nos cálculos de Altamir Lopes, o estoque de crédito, que recuou 0,3% nos dois primeiros meses, fechará o ano com avanço de 14%. Trata-se de uma previsão menor do que a feita em dezembro, de 16%, e menos da metade do incremento contabilizado em 2008, de 32%. ¿Mas será um aumento importante, com o crédito fechando o ano em 44% do PIB (Produto Interno Bruto)¿, destacou o economista do BC.

Das operações destinadas a pessoas físicas, Altamir chamou a atenção para a queda dos juros médios do cheque especial, de 172% ao ano, em janeiro, para 166,7%, no mês passado. No crédito pessoal, a redução foi de 56,5% para 54,5% ao ano. Nos financiamentos de veículos, a taxa baixou de 34,7% para 31,8%. ¿São todas taxas vigentes antes da crise¿, ressaltou o economista do BC. ¿O que se pode dizer dos números divulgados pelo BC é que a fase mais aguda do crédito ficou para trás¿, disse a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif.