Título: OMS recomenda que Hemisfério Sul se prepare
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 01/05/2009, O Mundo, p. 25

Vírus pode se propagar durante os meses de inverno. Cruz Vermelha pronta para mobilizar 60 milhões de voluntários

GENEBRA. O Hemisfério Sul - que inclui praticamente todo o Brasil e grande parte da América do Sul e da África, entre outras regiões - deve se preparar para a possibilidade de epidemias de gripe suína entre 21 de julho e 21 de setembro, período do inverno. É o que recomenda Feiji Fukuda, diretor-geral assistente da Organização Mundial de Saúde (OMS), alertando que é nessa estação que a propagação do vírus atinge seu pico:

- O Hemisfério Sul está se aproximando do inverno. É natural perguntarmos: vamos ver um aumento da atividade deste vírus? Pode ser na África, na Austrália, na Nova Zelândia. Pode acontecer em qualquer um destes lugares.

Sem citar nomes, Fukuda se limitou a dizer que alguns países da região "estão mais preparados que outros". Os países mais pobres, segundo ele, são sempre os mais vulneráveis porque têm menos recursos para monitorar a doença e comprar medicamentos.

- Muito da nossa atenção na OMS é como lidar com estas necessidades. Estamos movendo nossos recursos nesta direção. Mas há muita coisa acontecendo ao mesmo tempo - explicou.

Nos EUA, número de infectados sobe para 114

Michael Ryan, outro especialista da OMS, disse que provavelmente vai acontecer o mesmo que em pandemias anteriores: o vírus circulou em algumas regiões primeiro, e depois migrou para outras. Perguntado sobre se o risco de o vírus se propagar era maior no Brasil e no Hemisfério Sul, ele disse:

- Difícil saber. Uma coisa é a gripe comum, sazonal, Este é um novo vírus. Não sabemos qual a sua capacidade de adaptação a fatores como calor, seres humanos. Há todo um espectro de fatores (novos).

A OMS manteve ontem o nível de alerta 5, de uma escala que vai até 6. Ou seja: a um passo de uma pandemia.

- Não temos nenhuma evidência para sugerir que devemos mudar para nível 6 hoje - ressaltou Fukuda.

Ontem, o número de casos confirmados pelas OMS deu um salto: 236 contra 138 no dia anterior. Nos Estados Unidos, o número de casos confirmados aumentou para 114, cerca de metade deles em Nova York. Pelo menos cinco casos foram confirmados em Nova Jersey. Na Europa, Suíça e Holanda confirmaram um caso cada. Já o Peru, que havia notificado um caso na quarta-feira, o primeiro da América do Sul, disse que novos exames descartaram a doença na paciente, uma argentina que mora na Califórnia.

Fukuda anunciou que a OMS começou a distribuir tratamentos antirretrovirais aos países em desenvolvimento. A organização tem um estoque de 5 milhões de doses desse tipo de medicamento, inclusive de Tamiflu, que foram doadas pela indústria farmacêutica Roche em 2005 e 2006. Uma parte deste estoque vai para o México. Fukuda contou que a OMS, inicialmente, imaginou que poderia conter a propagação do vírus distribuindo estes medicamentos, mas se deu conta de que o vírus hoje já está muito espalhado.

A OMS e o laboratório Roche estão negociando um aumento da produção de antirretrovirais. Ao mesmo tempo, a organização está incentivando laboratórios a trabalharem rapidamente no desenvolvimento de uma nova vacina para o vírus H1N1. Mas várias questões continuam em aberto: ninguém sabe ainda a origem do vírus, nem se esta fase em que ele se propaga no mundo vai resultar em doenças suaves ou severas. O pior erro que países poderiam cometer hoje seria concluir que este é um vírus menos severo, e trabalhar menos para combatê-lo.

- É prematuro fazer previsões. Pode ser suave agora e se tornar severo depois. O mais importante é: o que vamos fazer para reduzir o máximo possível as mortes e doenças - ressaltou Fukuda.

Médicos devem usar máscaras e luvas, diz OMS

A organização, que advertiu médicos a só trabalharem de máscaras e luvas, também começou a contactar doadores para levantar dinheiro para a hipótese de uma pandemia, e a fazer a lista dos países mais necessitados. Fukuda não quis revelar qual o montante mínimo necessário, dizendo apenas que "quanto mais, melhor".

A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) anunciou ontem em Genebra que está pronta para mobilizar até 60 milhões de voluntários em 186 países, para ajudarem os governos a se prepararem para uma pandemia. Eles estão preparando material para educar as pessoas no combate ao vírus e lançaram ontem um apelo aos doadores para contribuírem com cerca de US$4,4 milhões a fim de cobrir os gastos mais imediatos da campanha.

oglobo.com.br/mundo